quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Manter as aparências

Por Luiz Carlos Azedo
Com Leonardo Santos

O ex-governador José Serra (PSDB) fez uma incursão ontem no Congresso para manter as aparências da unidade de seu partido. Reuniu-se com a bancada na Câmara, convocada às pressas, e conversou com senadores tucanos e alguns aliados. Um almoço reservado no restaurante do Senado com os caciques partidários foi o ponto alto da visita. À saída, revelou que não teve nenhuma conversa privada com o ex-governador Aécio Neves (PSDB), com quem disputa a liderança da legenda. Para bom entendedor, é o que basta para confirmar que o racha entre os tucanos continua firme e forte.


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O ambiente político para a visita de Serra ao Congresso era dos mais favoráveis. O governo mantém uma queda de braço com a sua própria base para segurar o novo salário mínimo nos R$ 545 propostos pela presidente Dilma Rousseff. O ex-candidato tucano a presidente da República aproveitou a visita para reiterar sua proposta eleitoral de um salário mínimo de R$ 600, que “considera factível e importante”. Dispôs-se a comparecer ao Senado, como sugere o ex-presidente Itamar Franco (PPS-MG), e explicar o porquê de sua proposta: “É só baixar a taxa de juros”.

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Quase simultaneamente, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), anunciou ontem o novo salário mínimo paulista: R$ 600. Um endosso à proposta de campanha de Serra, que foi encampada pelas legendas que o apoiaram nas eleições passadas, o DEM e o PPS. Mais um lance para manter as aparências de que a oposição está unida. Na verdade, Serra sustenta dois contenciosos na sua própria legenda: um com Aécio, outro com Alckmin. Apesar de derrotado duas vezes, não desistiu da vaga de candidato do PSDB a presidente da República em 2014.

Excluídos

Dois cardeais governistas ficaram de fora da Comissão de Constituição e Justiça do Senado: Pedro Simon (PMDB-RS) e Eduardo Suplicy (PT-SP). O primeiro é um velho desafeto do líder da bancada, Renan Calheiros (PMDB-AL), que não o perdoa por votar pela sua cassação. O segundo, virou uma espécie de sapo cururu na bancada petista, liderada pelo ex-ministro da Saúde Humberto Costa (PE).

Pirro

“Vamos unificar as oposições em torno dos R$ 600 para o salário mínimo”, disse o presidente nacional do PPS, Roberto Freire (foto), após reunião com o ex-governador José Serra e os líderes do PPS, Rubens Bueno, e do PSDB, Duarte Nogueira, na Câmara dos Deputados. Eleito por São Paulo, Freire avalia que a oposição não perde nada batendo o pé nos R$ 600, em vez de apoiar a posição das centrais sindicais que defendem um mínimo de R$ 580. “Se o governo aprovar a proposta de R$ 545 na base do rolo compressor, será uma vitória de Pirro.”

Agenda

O vice-presidente da República, Michel Temer, comandará o processo de discussão programática do PMDB daqui para frente. Temer pretende liderar o posicionamento da legenda na reforma política. A iniciativa deve conter o descontentamento, que vem ganhando coro na Câmara, com a cúpula da legenda.

Alternativa

A proposta de reajuste do mínimo para R$ 560 está ganhando adesões entre os partidos da base aliada. O PDT, que publicamente defende o aumento para R$ 580, já trabalha nos bastidores com a possibilidade de um valor abaixo do pleiteado. De acordo com a nova proposta, a diferença de R$ 15, entre o valor fixado pelo governo e o novo valor proposto, viria da antecipação do reajuste do mínimo do ano que vem. A posição da legenda, porém, deixa o ministro do Trabalho, Carlos Luppi, na corda bamba.

Fatura

Líder dos Democratas, ACM Neto (BA) disse ontem que o corte de R$ 50 bilhões no orçamento federal de 2011 é a fatura a ser paga em decorrência das últimas eleições. “Era inadmissível o desperdício de dinheiro público com tantos cargos de confiança, com tantas funções comissionadas, com tantas concessões a setores ligados aos partidos do governo e projetos eleitoreiros.” Foi o maior corte no Orçamento da União da história.

Na pista

Enquanto a novela da compra dos caças de última geração para a Força Aérea Brasileira (FAB) continua, estão sem condições de voar, por falta de peças e dinheiro para revisão, cerca de 300 aeronaves.

Tietagem

A sabatina realizada ontem no Senado para o futuro ministro do Supremo Tribunal Federal, Luiz Fux, foi marcada pela quantidade de elogios ao magistrado. A senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) exagerou: “Estou mais impressionada sabe por quê? Como mulher”. A declaração pública de admiração provocou risos das autoridades presentes.

Omissão/Em discurso ontem na tribuna do Senado, a senadora Marta Suplicy (PT-SP) criticou a postura do Congresso brasileiro com relação ao tema homofobia. Segundo ela, enquanto o Poder Judiciário obteve avanços importantes sobre o assunto, o Legislativo ficou estagnado.

Indicados/O PDT indicou os deputados Antônio Reguffe (PDT-DF) e Miro Teixeira (PDT-RJ) para integrar a comissão da Reforma Política da Câmara. O tema deve pautar as discussões no Congresso durante o primeiro semestre. A comissão está prevista para começar a funcionar a partir da semana que vem.

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