sábado, 16 de outubro de 2010

Dois projetos

Por Luiz Carlos Azedo
Com Leonardo Santos


Dilma Rousseff (PT) resolveu apostar todas as suas fichas no confronto entre dois projetos políticos supostamente antagônicos: o petista, já em curso, e o tucano, interrompido pelo governo Lula. Seria uma maneira de resolver, no atacado, a disputa com José Serra (PSDB) pela Presidência da República. Uma espécie de batalha final entre dois grandes exércitos, cujo vencedor depois aniquilaria os eventuais bolsões de resistência do adversário.

Brandindo as bandeiras do pré-sal e da Petrobras, símbolos do nacional-desenvolvimentismo governista, Dilma foi para a televisão acusar o tucano de ser um lesa-pátria. Supostamente, Serra estaria interessado em retomar o programa de privatizações do governo FHC para liquidar com o patrimônio nacional. O petróleo da camada do pré-sal, nas profundezas do nosso mar territorial, e a nossa principal empresa estatal seriam entregues ao capital estrangeiro. Acusação frontal, essa denúncia política se somou às promessas de mais crescimento econômico e à distribuição de renda que pautam a campanha eleitoral da petista.

As pesquisas dirão se o ataque de Dilma será capaz de pôr o tucano na defensiva. Durante o exílio, Serra foi discípulo do economista argentino Raúl Prebisch na Comissão Econômica para América Latina e Caribe (CEPAL), centro irradiador da teoria da dependência e do desenvolvimentismo latino-americano. Até agora, o tucano mitigou as divergências com o governo Lula no plano econômico e social, principalmente em relação às políticas monetária e industrial. Preferiu deslocar a disputa do terreno da economia para a política, onde a luta do seu ponto de vista seria menos desigual. Pois bem, Dilma resolveu levar a política para o plano ideológico.

Guerrilha

Como a situação da economia e os programas sociais alavancam a avaliação do governo e a popularidade do presidente Lula, sustentáculos da candidatura de Dilma, o tucano Serra foge do confronto sobre esses temas. Prefere minimizar as diferenças existentes e propor ajustes nas políticas públicas, programas governamentais e planos de investimentos do governo Lula. Ao mesmo tempo, bate duro no que chama de aparelhamento do Estado pelo PT e explora politicamente os escândalos envolvendo integrantes do governo, como ocorreu durante a crise que abateu a ex-ministra da Casa Civil Erenice Guerra. Aparentemente, essa tática pôs a petista na defensiva.

Baixaria

Os petistas, porém, avaliam que o tucano vai muito além do que fala nas entrevistas e propõe nos programas eleitorais. Setores conservadores, principalmente clericais, teriam organizado uma guerra suja, exploram preconceitos e disseminam calúnias contra a petista. Essa estratégia seria a principal causa das dificuldades de Dilma e, por isso, a única resposta possível é politizar ao máximo o debate com o tucano a fim de evitar a desconstrução da imagem da petista e do governo federal. É aí que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva volta com tudo para a campanha na tevê.

Estancou

Aparentemente, Dilma conseguiu estancar a sangria de votos que registrava desde a reta final do segundo turno. Segundo o Datafolha divulgado ontem, manteve 54% dos votos válidos, contra 46% de seu oponente, José Serra (PSDB). Em contrapartida, o índice de indecisos subiu para 8%. Ou seja, continua ameaçada por Serra.

Impugnações

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) deve julgar, na semana que vem, o recurso contra a impugnação dos candidatos Cassio Cunha Lima (PSDB), que conseguiria uma das vagas no Senado pela Paraíba, e Paulo Maluf (PP), que teria uma das vagas de deputado federal por São Paulo. Em jogo, estarão nas mãos do TSE os votos de 1.501.386 eleitores

Difícil

Em passagem pelo Pará, o presidente Lula tentou intermediar um acordo entre a governadora petista Ana Júlia Carepa e o cacique peemedebista Jader Barbalho, candidato ao Senado sub júdice. Do lado petista, o interlocutor foi Paulo Rocha (PT), candidato ao Senado na mesma situação de Jader no Supremo Tribunal federal (STF). Helder Barbalho, prefeito de Ananideua, representou o pai. Não houve acordo.

Fácil

O ex-governador Almir Gabriel, fundador do PSDB no Pará, declarou apoio à reeleição de Ana Júlia Carepa (PT) para o governo do Pará e à eleição de Dilma Rousseff (PT) para a Presidência da República. Ontem, ao lado de Ana Júlia, desceu o sarrafo no candidato tucano ao governo do estado, Simão Jatene (PSDB), chamando- o de "preguiçoso", e em José Serra, a quem chamou de "ególatra".

Mudança / Um empresário baiano relatou ao líder do PSDB na Câmara, deputado João Almeida (BA), a mudança de voto da empregada doméstica. Curioso, o empresário quis saber o motivo da troca. "No primeiro turno, eu votei na Dilma, mas, como todo mundo no meu bairro tá votando no Serra, eu também resolvi mudar", revelou. Na avaliação deAlmeida, que perdeu a reeleição, a eleição já está decidida para os políticos baianos.

Intervenção / O ministro da Justiça, Luiz Paulo Barreto, descarta intervenção política na investigação sobre a existência de loby na Casa Civil durante a gestão da ex-ministra Erenice Guerra. Segundo o ministro, o delegado responsável pelo inquérito, Roberval Vicalvi, pode pedir quantas prorrogações achar necessárias até concluir o caso.

Apuração / A divulgação dos resultados da eleição presidencial no próximo dia 31 de outubro só acontecerá a partir das 19h. É que o horário de verão começa a partir de hoje (sábado) e aumenta em mais uma hora o fuso horário de Brasília em relação às cidades mais a oeste do país.

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