quarta-feira, 7 de julho de 2010

O samba plataforma

Por Luiz Carlos Azedo
Com Leonardo Santos
luizazedo.df@dabr.com.br

O ex-ministro da Fazenda Antônio Palocci estava mais leve ontem. Atravessou o cafezinho da Câmara dos Deputados cantarolando um samba de João Bosco e Aldir Blanc da época do regime militar que é mais ou menos uma síntese do seu estado de espírito, depois dos dias de tensão que antecederam o registro das candidaturas. “Não sou candidato a nada/Meu negócio é batucada”, entoou, para explicar que havia retirado seu nome da lista de concorrentes a uma cadeira de deputado federal pelo PT de São Paulo. Fora incluído na chapa por pressão do senador Aloizio Mercadante (PT), postulante ao governo de São Paulo, e outros caciques paulistas da legenda.

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A letra do velho samba de Paulinho — “Não põe corda no meu bloco/Não dá ordem ao carro chefe…” — tem tudo a ver com a decisão tomada por Palocci. Antes, já havia recusado a primeira suplência da petista Marta Suplicy, que lidera a disputa por uma das duas vagas de São Paulo no Senado. Não era apenas um convite da ex-prefeita paulistana, como se poderia supor. Mais do que isso: não atendeu a um pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que gostaria de vê-lo liderando a bancada petista no Senado num eventual governo Dilma Rousseff.

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Para o mercado, Palocci não é importante no Senado, mas é insubstituível num eventual governo Dilma. Seria a garantia de que, sem Lula, não haverá surpresas na condução da economia. Já o arrazoado que está sendo alinhavado por Marco Aurélio Garcia, Moreira Franco e Mangabeira Unger — para fundir os programas do PT e do PMDB e transformá-los numa plataforma eleitoral — não passa de uma colcha de retalhos.

Casa Civil

Oito entre 10 petistas apostam que o ex-ministro Antônio Palocci será o futuro chefe da Casa Civil de Dilma Rousseff se a petista vencer as eleições. Os outros dois divergem quanto ao seu futuro político. Há quem acredite que ele ocuparia o lugar de Henrique Meirelles no Banco Central e também existem aqueles que prefeririam vê-lo como ministro da Indústria e Comércio. Palocci é médico por formação, mas, curiosamente, ninguém pensa nele como substituto do ministro da Saúde, José Gomes Temporão.

Aumento

Sobrou para os servidores do Senado. A obstrução promovida pela oposição na Câmara — onde está o projeto do plano de carreira, já aprovado na outra Casa — segue firme e, no que depender dos líderes, a votação do reajuste está fora de cogitação. O aumento médio de 25% terá um impacto nas contas do Senado de R$ 465 milhões

Cofre

Muito comentada no Congresso ontem a declaração de bens de Dilma Rousseff, que revelou patrimônio pessoal de R$ 1,07 milhão. Especificamente, o fato de ter R$ 113 mil em “dinheiro em espécie, moeda nacional”. Políticos em geral gostam de pagar despesas pessoais em cash, mas nunca declaram os reais que guardam no colchão.

Amigo

O governador de Goiás, Alcides Rodrigues, do PP, decidiu faturar com as obras do PAC 2 sozinho. Espalhou pelo estado outdoors para alardear a criação de 70 mil empregos devido à construção da Ferrovia Norte-Sul, mas ignorou solenemente o governo federal e a bancada goiana no Congresso, que garantiram, juntos, R$ 1,4 bilhão no Orçamento da União de 2010 para a execução da obra. Quer ser reeleito sem depender de Dilma Rousseff e do presidente Lula.

Devagar

Apesar do discurso revolucionário, o candidato do PSol à Presidência da República, Plínio de Arruda Sampaio, faz campanha em câmara lenta. Ontem, viajou de Brasília para São Paulo depois de confirmar o registro da sua candidatura. Hoje, grava vídeos numa produtora paulista. Amanhã, reúne-se com a equipe de campanha. E na sexta-feira participa de encontro com lideranças católicas na Vila Carmosina, em Itaquera (SP).

Baixa

Querido entre os colegas, apesar das madrugadas em que liderou estoicamente a obstrução dos trabalhos, o líder do PPS na Câmara, Fernando Coruja (SC), desistiu da reeleição. Médico endocrinologista, especialidade que nunca deixou de exercer, pretende se dedicar ao consultório e ao ensino na universidade. Acredita, porém, que sua vaga será ocupada por Carmen Zanotto, ex-secretária de Saúde em Lages (SC) na época em que foi prefeito da cidade.

Telefone

Esquentou a discussão na Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) sobre a redução das tarifas de ligação entre celulares e os tradicionais telefones fixos. Atualmente, a ligação de um telefone doméstico para um celular custa R$ 0,40, enquanto de um celular para o telefone domiciliar custa R$ 0,17. O subsídio cruzado da telefonia móvel perdeu qualquer sentido.

Bloqueio - Os representantes de agricultores familiares se sentiram discriminados durante a votação do novo Código Florestal na comissão especial que aprovou o relatório do deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP). Por causa da segurança reforçada, não tiveram acesso à ala das comissões da Câmara. Reclamam que representantes dos ruralistas não passaram por esse constrangimento.


Abriram - Por falta de unidade interna, tanto o PT quanto o PSDB liberaram suas bancadas para votar o novo Código Florestal. O PSB também. Na oposição, o DEM e o PPS votaram a favor do documento. Os partidos que se posicionaram contra foram o PV e o PSol.

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