Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 14/01/2014
A Sete Brasil foi criada em 2010 pelo governo e pela Petrobras para
fornecer sondas para exploração de petróleo da camada pré-sal,
favorecida pela legislação de reserva de mercado
O
Palácio do Planalto move mundos e fundos para evitar que os acionistas
da Sete Brasil peçam a recuperação judicial da empresa, que é uma das
protagonistas do escândalo da Petrobras. As articulações seguem a
orientação direta da presidente Dilma Rousseff, empenhada em salvar as
empresas envolvidas na Lava-Jato, com a desculpa de que são os CPFs — e
não os CNPJs (pessoas jurídicas) — que devem ser tirados de circulação,
para preservar os empregos e retomar o crescimento.
Por
tudo o que se apurou até agora, a Sete Brasil é a síntese dos malfeitos
do pré-sal. Parece até que a ideia de sua criação tenha sido o fabuloso
negócio, relatado pelo ex-diretor Internacional da Petrobras Nestor
Cerveró em sua delação premiada, entre a Schahin Engenharia e a
Petrobras, para contratação de um navio sonda por US$ 1 bilhão. Foi a
forma de pagamento do empréstimo concedido pelo banco Schahin ao
fazendeiro José Carlos Bumlai, no valor de R$ 6 milhões, que teriam sido
repassados ao empresário de Santo André Ronan Maria Pinto, um dos
envolvidos no assassinato do prefeito petista Celso Daniel.
Oficialmente,
a Sete Brasil foi criada em 2010 pelo governo e pela Petrobras para
fornecer sondas para exploração de petróleo da camada pré-sal,
favorecida pela legislação de reserva de mercado para empresas
fornecedoras de tecnologia e pelo regime especial de contratação que
flexibilizou a lei de licitações, no caso da petroleira. O primeiro
presidente da empresa foi o ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco, um
dos primeiros a fazer delação premiada. Ele devolveu espontaneamente US$
100 milhões desviados da empresa, o que passou a ser uma unidade de
custos no jargão dos petroleiros. Quando se fala em dívidas e
investimentos, os funcionários perguntam: custa quantos “baruscos”?
A
Petrobras havia encomendado 28 sondas para exploração do pré-sal, mas a
empresa revelou-se um poço sem fundo, com uma dívida que hoje chega a
R$ 14 bilhões. Com o escândalo e as investigações da Operação Lava-Jato,
as empresas acionistas da Sete Brasil e a própria Petrobras possaram a
cobrar a entrega das encomendas. Os fundos de pensão Previ, Funcef,
Petros, o FT-FGTS, além do BTG Pactual, Bradesco e Santander, correm
atrás do prejuízo. No próximo dia 21, os acionistas vão se reunir para
decidir o futuro da empresa. O governo tenta salvá-la. A
Petrobras reduziu o volume de encomenda de sondas para o pré-sal de 28
para 14, porém, exige aos sócios da Sete Brasil que não processem a estatal
pelas perdas em razão da redução do projeto. Os acionistas da Sete não
concordaram com a exigência apresentada pela área de Produção e
Exploração da companhia. Se não houver acordo, entrarão com pedido de
recuperação judicial.
O presidente do BNDES,
Luciano Coutinho, foi encarregado por Dilma de conduzir as negociações. É
preciso uma solução jurídica robusta para que o banco possa liberar
recursos do Fundo de Marinha Mercante e de outras fontes destinados ao
projeto, cujo valor total pode chegar a R$ 20 bilhões. As negociações
dos acordos de leniência com empreiteiras envolvidas na Lava-Jato também
são condicionantes, porque algumas das empresas encarregadas de
construir os navios estão envolvidas no escândalo e sem isso não poderão
ter contratos com a Petrobras.
Megalomania
Os
principais credores da empresa — Banco do Brasil, Caixa Econômica
Federal, Itaú, Bradesco e Santander —, na segunda-feira, decidiram dar
mais 120 dias para a Sete Brasil pagar a dívida de R$ 14 bilhões vencida
em 2015. É uma missão impossível. Mesmo que consiga levantar parte dos
recursos, a empresa tem desafios operacionais difíceis de resolver. É
fruto da megalomania do pré-sal e de ilusões desenvolvimentistas: pelas
regras da Agência Nacional do Petróleo, a Petrobras só pode ter
fornecedores que garantam, no mínimo, 55% de sua produção no país.
Prezado Azedo, na exploração de petróleo em águas profundas, caso do nosso pré-sal, os empregos estão na construção de sondas, plataformas, navios de apoio - todos anteriores a produção de petróleo em si. Um navio plataforma em operação em alto mar, todo automatizado, emprega muito pouca gente. É mais do justificável a tentativa do governo de salvar empresas como a Sete que, é claro, também precisam ser bem administradas. Atrasos são possíveis, o que não se justifica são falcatruas. Por que fazer como FHC que sempre preferiu criar empregos fora do Brasil, fazendo encomendas lá fora? O Brasil precisa se reindustrializar - a indústria já ocupou mais de 20% do PIB brasileiro, e hoje o seu lugar no PIB está na faixa de 12%. O nosso pré-sal, com equipamentos fabricados e construídos no Brasil, gera empregos aqui - não lá fora. Abraço
ResponderExcluirPrezado Azedo, toda política econômica encetada pelo governo petista se mostrou um fiasco e eles ainda tentam justificar o injustificável.
ResponderExcluirA Petrobras está vendendo os seus ativos para manter o nível da produção, vez que os investimentos foram a nocaute, ou já o faz para pagar os salários dos petroleiros, estes com privilégios que não podem ser trazidos à luz da razão econômica da empresa?
A "Nova Matriz Econômica", e o seu filhote monstruoso chamado de
"Conteúdo Local " somente produziria algum fruto bom se o nosso Brasil-Brazuela não fosse eivado de corrupção.
Produzir empregos no Brasil é discurso populista se esse emprego for improdutivo e quem o paga ao final é o dinheiro do contribuinte!
Não existe almoço de graça, quando aprenderão isso?
Recomendo ao Michiel Bassul, e a todos, a leitura deste texto maravilhoso do Mauro Santayana, grande jornalista com quem tive a honra de trabalhar no velho JB, no Rio de Janeiro - quando ele era correspondente no Leste europeu. http://www.pdt.org.br/index.php/noticias/mauro-santayana-o-diabo-e-a-garrafa
ResponderExcluirPrezado Se Oswaldo Maneschy, li o artigo pelo Sr. recomendado. Achei que o texto segue a linha dos textos que apoiam o governo, recheado de adjetivos e pobre em substantivos. Nenhuma palavra sobre nenhum possível erro dos governos do PT,a tática utilizada é a de não admitir os erros, distorcer e maximizar as críticas de modo a se fazer crer que os críticos pintam um cenário apocalíptico e que as coisas não vão tão mal assim, praticar um determinismo de turbante predizendo que o que virá depois de um possível impeachment será muito pior.O mesmo exercício empregado na campanha para dizer que se Dilma não fosse eleita o Brasil iria acabar. Curioso também é o parágrafo abaixo que se a intenção era fazer a defesa do governo (mostrando o contrário),convenhamos... " Que o Brasil é um país comunista quando pagamos juros altíssimos, e somos, historicamente, dominados, na economia e na política, por um dos mais poderosos sistemas financeiros do mundo, pelo agronegócio e o latifúndio, por bancos e empresas multinacionais."
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