Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense: 05/10/2015
A punição por
quebra de decoro vai da simples advertência à cassação. Mentir é
considerado infração gravíssima. Cunha nega que tenha feito isso, contra
todas as evidências
O líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), assumiu ontem a
missão de blindar o presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ),
oficializando o que já se sabia: o Palácio do Planalto vai trabalhar os
votos no Conselho de Ética para evitar a cassação de Cunha. Se o caso
for a voto em plenário, será muito difícil para Cunha evitar uma degola,
mesmo com o prestígio que tem com o baixo clero. “O processo corre
naturalmente. Ninguém pode ser excluído de suas funções ou condenado sem
o trânsito em julgado. E isso também vale para o Conselho de Ética”,
disse Guimarães. Até então, o líder do governo respondia aos
questionamentos com ambiguidade, com o argumento de que o assunto não
dizia respeito ao governo, mas ao Conselho de Ética.
Cunha tem
“colaborado” com o governo em algumas propostas de mútuo interesse,
como é a aprovação do projeto de repatriação de ativos no exterior não
declarados à Polícia Federal, ou seja, o dinheiro mantido ilegalmente
no exterior por empresas e indivíduos, não importa a origem, desde que
pagando imposto ao governo. “Ele tem colaborado. Não tem criado nenhuma
dificuldade na votação das matérias. Não tem troca. Eu sou o líder do
governo e como tal tenho que dialogar com ele institucionalmente”,
justifica Guimarães, que ainda assim nega o acordo. O jogo é jogado.
Cunha também nega ter um acerto para salvar o mandato barrando a
proposta de impeachment da presidente Dilma Rousseff.
Quem
paga mico por causa da situação é a oposição, que poupa Cunha de um
ataque frontal, fingindo-se de morta quanto ao processo de cassação
aberto no Conselho de Ética a pedido do PSol e da Rede. Mas isso não
significa que a vida de Cunha esteja livre de grandes constrangimentos.
Um grupo de jovens do movimento autodenominado Levante Popular da
Juventude aprontou ontem no Salão Verde contra o presidente da Casa.
“Trouxeram sua encomenda da Suíça”, gritou um rapaz, ao jogar as cédulas
com a estampa do dólar e uma foto de Cunha.
Era Thiago Pará,
secretário-geral da União Nacional dos Estudantes e integrante do
movimento, que foi rapidamente detido pela Polícia Legislativa. Mas o
estrago já estava feito. Não será fácil a vida de Cunha daqui por
diante, pois a cassação agora faz parte da agenda da Câmara, por mais
que o processo esteja ainda sob seu controle. Seu maior aliado no
Conselho de Ética é o deputado Paulo Pereira da Silva (SD-SP), que
assumiu o lugar de Wladimir Costa (SD-PA). O atual titular renunciou ao
cargo alegando problemas de saúde.
Mais conhecido como
Paulinho da Força, o ex-sindicalista não vacila: “Queremos o impeachment
da Dilma e achamos que é preciso manter o Eduardo para conseguir o
impeachment. Então essa vai ser a posição no Conselho de Ética”,
afirmou. Essa vem sendo a posição velada da oposição. O presidente do
Conselho de Ética, deputado José Carlos de Araújo (PSD-BA), deve
anunciar hoje o relator do caso, entre os nomes da lista tríplice
indicada pelo conselho: os deputados José Geraldo (PT-PA), Vinícius
Gurgel (PR-AP) e Fausto Pinato (PRB-SP). Os três são aliados de Cunha,
mas sofrem grande pressão da opinião pública.
A punição por
quebra de decoro vai da simples advertência à cassação. Mentir é
considerado infração gravíssima. Cunha nega que tenha feito isso, contra
todas as evidências. Estão mais do que comprovadas pelo Ministério
Público Federal a existência de contas na Suíça, que ele negou existir
em depoimento espontâneo à CPI da Petrobras. A estratégia de Cunha é
barrar a cassação no Conselho de Ética, o que não permitiria recurso em
plenário. É mais fácil controlar o colegiado de 21 integrantes do que
pelo menos 257 deputados em plenário.
No purgatório
Qualquer
líder sindical minimamente escolado sabe que o desemprego põe os
trabalhadores na defensiva, não adianta brigar por aumento real de
salários quando as empresas estão demitindo em massa. Por isso mesmo,
apesar do agravamento da crise, há poucas greves nas grandes empresas do
país. A exceção, é claro, são greves de servidores com salários
atrasados ou congelados. Por terem estabilidade no emprego e sempre
conseguirem repor os dias parados, conseguem fazer greves relativamente
longas, nas quais os usuários dos serviços públicos são os grandes
prejudicados.
A presidente Dilma Rousseff não está nem aí para essas
greves, o que desespera governadores e prefeitos. Tudo muda de
figura, porém, diante da greve dos petroleiros, que reduziu a produção
de petróleo do país em 273 mil barris no segundo dia de paralisação nas
plataformas da Bacia de Campos. O volume corresponde a 13% da produção
nacional, um prejuízo de US$ 10,6 milhões. Uma outra greve também
preocupa o Palácio do Planalto: a dos caminhoneiros, anunciada para a
próxima segunda-feira.
Este o PT que eu conheço bem... Calhordas até o último centímetro.
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