Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 28/07/2015
A
aposta na parceria com a China para retomar os investimentos,
principalmente em infraestrutura e na área de petróleo, subiu no telhado
Quando lançou seu novo programa de concessões em infraestrutura — na
verdade um plano requentado, no qual o mirabolante projeto de construção do trem-bala
Rio-Campinas-São Paulo foi substituído pela ferrovia transcontinental
ligando o porto de Santos ao Pacífico, via Peru —, a presidente Dilma
Rousseff apostava todas as fichas no ingresso maciço de investimentos
chineses no Brasil.
A parceria foi acertada com o
primeiro-ministro Li Keqiang, durante sua recente passagem por Brasília,
na qual assinou 35 acordos de cooperação em oito áreas que envolvem
investimentos de US$ 53 bilhões. Só com a Petrobras, foram assinados
três atos de cooperação, no valor de US$ 7 bilhões.
Mas parece
que faltou combinar com os investidores chineses. Ontem, a bolsa de
valores de Xangai caiu mais de 8%, com a confiança ainda impactada pela
queda da atividade industrial daquele país. Essa foi a maior baixa desde
fevereiro de 2007. Em consequência, as bolsas asiáticas fecharam em
queda.
A bolsa de Xangai reflete a desaceleração da segunda maior
economia do mundo, que é o maior parceiro comercial do Brasil.
Resultado, aqui a moeda norte-americana avançou 0,5%, fechando a R$
3,3640 na venda. É a maior cotação desde 28 de março de 2003, quando o
dólar encerrou a sessão a R$ 3,3757. No mês de julho, o dólar acumula
alta de 8,2%. Neste ano, a moeda já avançou 26%.
A economia
chinesa é uma referência para quem investe em emergentes. Se a bolsa lá
piora, o investidor também fica com um pé atrás para investir no Brasil.
Nos últimos 20 anos, a economia brasileira passou por mudança
estrutural na sua relação com o mundo.
Assim como o eixo do
comércio mundial se deslocou do Atlântico para o Pacífico, a China
desbancou os Estados Unidos como principal parceiro comercial do Brasil.
Muito da bonança que o país viveu durante o governo Lula se deve à
expansão da economia chinesa. Agora, tudo mudou.
A China, porém,
enfrenta uma forte crise no mercado financeiro, que muitos suspeitam ser
uma bolha que mais cedo ou mais tarde explodiria. A queda de ontem em
Xangai atingiu especialmente as empresas de corretagem, como a
Industrial Securities e Dongxing Securities, que perderam 10%, o máximo
possível em um dia de cotação.
As empresas especializadas em
estradas também, como a Hubei Chutian Expressway e Shandong Hi-Speed,
que perderam igualmente 10%. A bolsa de Xangai caiu 30% nas últimas três
semanas, acumulando perdas de mais de US$ 3 trilhões. Para se ter uma
ideia, isso significa 10 vezes o PIB da Grécia.
Aposta duvidosa
Em
Wall Street, investidores aguardam a reunião do Federal Reserve, o
banco central dos Estados Unidos, que pode dar novo passo em direção à
elevação da taxa de juros norte-americana. Uma decisão nesse sentido
pode ser um tsunami para a economia brasileira, cada vez mais
vulnerável.
É aí que a flexibilização do ajuste fiscal aprovado
pela presidente Dilma Rousseff na semana passada pode ser um desastre. A
promessa de que duraria um ano de sacrifícios, com a retomada do
crescimento em 2016, foi para o espaço. O ajuste deve durar pelo menos
três anos e, talvez, até quatro.
Fala-se em recessão também no
próximo ano, por causa da alta dos juros para conter a inflação. A
aposta de uma parceria com a China para retomar os investimentos,
principalmente em infraestrutura e na área de petróleo, era o cenário
mais robusto que a presidente Dilma Rousseff tinha para estancar a
recessão. Essa alternativa subiu no telhado.
Com o agravante de
que as exportações de commodities de minério e produtos agrícolas para a
China — até então uma variável confiável diante da posição do Brasil na
nova divisão internacional do trabalho — também deverão sofrer
consequências se a economia chinesa desacelerar ainda mais.
Na
realidade, estamos diante de duas graves ameaças externas — a elevação
dos juros nos EUA e a crise de financiamento da China —, com agravamento
de mazelas crônicas da economia brasileira em razão de uma política
desastrada de expansão do consumo sem elevação da produtividade, que dá
sinais de recidiva porque a presidente Dilma retomou as rédeas da equipe
econômica.
A volta da inflação crônica, os novos aumentos de
impostos, os juros na Lua, a recessão, a corrupção incruada e crise
ética mostram o esgotamento simultâneo de um modelo de governo e de
desenvolvimento que se sustentava no poder do Estado brasileiro. O atual
governo, que tem apenas seis meses, não quer implementar uma nova
agenda de reformas estruturantes. E se quisesse, com a desmoralização
política que sofreu, não teria condições de fazê-lo. Ou seja, está num
beco sem saída.
Esse governo deveria responder aos problemas e crise com uma profunda reflexão e mea culpa. E imediatamente produzir uma grande reforma administrativa visando eficiência, eficácia, redução do custeio do Estado. O poder público municipal, estadual, federal e respectivas estruturas necessitam ser repensadas.
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