Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 02/04/2013
O índice de confiança em Dilma
contabiliza apenas 24%. Sua aprovação caiu de 63% para 22%, mesmo entre
os eleitores que afirmaram ter votado nela
Não faz tanto tempo
assim, a maioria dos adultos ainda se lembra dos orelhões, os antigos
telefones públicos, que já são peças de museu.
Ele funcionava por um
sistema de fichas, mais ou menos como essas máquinas que vendem café
expresso mediante a colocação de moedinhas. O sujeito tirava o telefone
do gancho, colocava a ficha e discava o número. Quando a ligação se
completava, ficava esperando ela cair. Só depois que isso acontecia
poderia começar a conversa. É daí que vem a expressão que intitula a
coluna.
Parece que a ficha finalmente caiu no Palácio do Planalto. Os
sinais de que isso aconteceu foram dados pela presidente Dilma Rousseff
esta semana, mas o fator decisivo foi a pesquisa CNI/Ibope divulgada
ontem, que estava pronta desde sexta-feira e chegou ao conhecimento da
Presidência no fim de semana. Segundo o Ibope, o governo é considerado
“ruim/péssimo” para 64% dos entrevistados. A maneira de Dilma governar é
desaprovada por 78%, enquanto 74% não confiam na presidente.
Os
números confirmam a tendência já apontada pelas pesquisas anteriores do
Datafolha e da CNT/MDA. Mostram que a popularidade da presidente parece
ter chegado ao piso de aprovação: 12%. Segundo o Ibope, também é esse o
percentual de avaliação positiva do governo. No Datafolha, o índice foi
de 13%. Na CNT/MDA, atingiu 10,8%. O governo Dilma é desaprovado em
todas as áreas, principalmente na economia. Apenas 23% consideram o
governo “regular”.
Coube ao ministro da Casa Civil, Aloizio
Mercadante, comentar a pesquisa: “O governo tem que ter humildade,
trabalho, trabalho e trabalho. Nosso compromisso é para quatro anos e
três meses de governo. É apenas o início de um processo. Portanto, a
fotografia não é boa, mas o filme vai ser muito bom”. A mensagem é de
que o governo não perdeu a perspectiva, mas a verdade é que a situação é
muito difícil.
Entre as pesquisas CNI/Ibope de dezembro do ano
passado e de março deste ano, houve uma inversão entre os percentuais de
avaliação positiva e negativa do governo. O índice “ótimo/bom” caiu 28
pontos, enquanto o percentual “ruim/péssimo” cresceu 37 pontos. Já a
avaliação regular caiu nove pontos.
Quem avaliava o governo
de forma positiva ou regular, agora o desaprova. Analistas consideram
muito difícil uma recuperação em razão de dois fatores: o agravamento da
situação da economia e os desdobramentos da Operação Lava-Jato, que
investiga o escândalo da Petrobras. São duas variáveis que o governo não
controla e que vão perdurar no processo ao longo dos próximos anos,
talvez por todo o mandato de Dilma.
Estelionato eleitoral
Uma
dessas variáveis foi subestimada por Dilma. Não estava no seu horizonte
a contaminação da imagem dela pelo escândalo da Petrobras. A presidente
da República, desde a famosa carta na qual tirou o corpo fora da compra
superfaturada da refinaria de Pasadena, no Texas (EUA), procurou manter
distância regulamentar dos chamados malfeitos da estatal. Mas não
conseguiu evitar os danos de imagem.
Havia até uma grande
expectativa de que a revelação da famosa lista do procurador-geral da
República, Rodrigo Janot, levaria a borrasca que atingiu a Petrobras
para o Congresso, mas deixaria ao largo o Palácio do Planalto. Não foi o
que aconteceu. Dilma não conseguiu encarnar o papel de reserva moral
diante dos políticos envolvidos.
O maior problema, porém, é a
contradição entre o discurso de campanha eleitoral, no qual mascarou os
problemas e prometeu uma vida cor-de-rosa para os eleitores, e a dura
realidade. A “desconstrução” dos adversários na campanha eleitoral cobra
agora o seu preço. De acordo com o Ibope, 76% entendem que o segundo
governo Dilma é pior do que o primeiro.
Aumentos das tarifas
de energia e combustíveis, alta da inflação e dos juros, reajuste dos
remédios… Muitos dos indicadores negativos da economia têm impacto
direto no bolso dos eleitores. Resultado: o índice de confiança em Dilma
contabiliza apenas 24%. Sua aprovação caiu de 63% para 22%, mesmo entre
os eleitores que afirmaram ter votado nela na eleição presidencial do
ano passado.
O estrago é generalizado. O combate à fome e à
pobreza e as medidas para evitar o aumento do desemprego são
desaprovados por 64% e 79%, respectivamente. Nessas duas áreas, a
aprovação é de apenas 33% e 19%. A educação também é fortemente
rejeitada (73%). A esmagadora maioria desaprova o combate à inflação
(84%), a taxa de juros (89%) e os impostos (90%). Sobre o futuro do
governo, 55% têm uma expectativa negativa (“ruim/péssimo”) contra apenas
14% que demonstram otimismo (“ótimo/bom”).
O Teflon gastou, coisas do tempo
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