segunda-feira, 9 de março de 2015

O estado da arte

A presidente Dilma Rousseff foi à tevê fazer uma longa defesa do ajuste fiscal e dizer que a economia do país só deve começar a melhorar a partir do fim do ano. Foram 16 minutos de discurso, recebidos em vários pontos do país por vaias e panelaços convocados pelas redes sociais e registrados pela mídia. Nunca houve isso, desde a crise do governo Collor de Mello, mesmo em se tratando de um protesto de classe média em bairros verticalizados.


Dilma reuniu ontem os ministros da articulação política para avaliar o impacto da abertura de investigação contra 34 parlamentares, sendo 33 deles de partidos da base aliada, e para discutir a extensão dos danos na relação com o Congresso. Fará um apelo ao vice-presidente Michel Temer para que se integre à coordenação política e exigirá o apoio do PT às medidas provisórias que restringem o acesso aos benefícios trabalhistas e previdenciários. 

A Operação Lava-Jato atingiu em cheio a coalizão governista – 47 são integrantes da base de apoio -- , jogou na defensiva a cúpula do Congresso e deixou a presidente da República na situação desconfortável: está de fora da investigação porque os fatos são anteriores ao seu mandato.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, cada vez mais distante do governo, continua sendo a única liderança capaz de reagrupar a coalizão de governo em torno de Dilma Rousseff e comandar uma reação dos governistas no sentido de reencontrar o seu rumo político. A antecipação de candidatura de Lula às eleições de 2018 será a maneira de o PT se manter como alternativa de poder. Mas isso significa deixá-lo no sereno e fragilizar ainda mais a presidente Dilma.

Há uma nova correlação de forças, o governo perdeu apoio da maioria da população e a oposição está mais sintonizada com as ruas. A crise no Congresso não se resolverá no curto prazo, nem a da economia. Estamos diante de um cenário complicado, cuja superação pressupõe o respeito à Constituição. É só o começo, ainda vai rolar muita água sob a ponte. 

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