quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Receita de omelete

Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 26/02/2015


A presidente da República não faz autocrítica dos erros na condução da economia, numa espécie de fuga pra frente: “O que nós estamos fazendo é o seguinte: preparando o Brasil para um novo ciclo de crescimento"

A presidente Dilma Rousseff ontem, em Feira de Santana (BA), durante entrega do programa Minha Casa, Minha Vida, comparou-se a uma dona de casa diante da necessidade de administrar os recursos familiares ao explicar como pretende fazer o ajuste fiscal.

“Ninguém faz ajuste por fazer. Eu faço ajuste no meu governo como uma mãe, uma dona de casa faz na casa dela. Nós precisamos dar condições para retomar um novo ciclo de desenvolvimento econômico. Para quê? Para gerar mais emprego, para segurar mais renda e fazer com que o Brasil continue a crescer de forma acelerada”, afirmou.

O discurso de Dilma foi uma resposta ao duro recado que recebeu da cúpula do PMDB, durante encontro dos ministros da Fazenda, Joaquim Levy, e da Casa Civil, Aloysio Mercadante, com os caciques da legenda, entre eles o vice-presidente Michel Temer e os presidentes do Senado, Renan Calheiros (AL), e da Câmara, Eduardo Cunha (RJ).

O PMDB quer participar das decisões do Palácio do Planalto, reivindica ministérios mais importantes e condiciona a aprovação do ajuste fiscal ao PT cortar na própria carne, enxugando gastos do governo com cargos comissionados. “Erro na política não se conserta, só se compensa com acertos. O problema de Dilma Rousseff é que ela comete um erro atrás do outro”, critica um dos participantes do encontro.

A presidente da República, porém, não faz autocrítica dos erros na condução da economia, numa espécie de fuga pra frente: “O que nós estamos fazendo é o seguinte: preparando o Brasil para um novo ciclo de crescimento. O nosso compromisso é um só: emprego, salário e renda das pessoas”.

Dilma havia escalado o ministro Aloysio Mercadante para acompanhar a conversa de Joaquim Levy com os peemedebistas sobre o ajuste fiscal. Profissionais da política, os interlocutores aproveitaram a presença do petista para mudar o eixo da pauta para a relação com o governo.

Além de criticarem Dilma por não ter uma estratégia de crescimento para o país que torne o ajuste mais defensável, disseram com todas as letras que a relação do Palácio do Planalto com o Congresso está muito deteriorada por causa do hegemonismo petista em relação aos aliados. Em outras palavras, o PMDB quer mandar no governo tanto quanto o PT ou mais.

A petista não deu o braço a torcer. Ontem disse ter “coragem suficiente para fazer as mudanças necessárias” em seu governo, mas que não abrirá mão dos programas sociais, como o de habitação popular. A gestão do programa é uma das queixas do PMDB, pois está sob as asas do ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab, ministro das Cidades, presidente do PSD, e da petista Miriam Belchior, nova presidente da Caixa Econômica Federal. Seu orçamento é maior do que os das pastas do PMDB juntas.

Bengala
O troco do PMDB veio a cavalo. O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), anunciou que pretende aprovar a chamada “PEC da Bengala”, proposta de emenda à Constituição que eleva de 70 anos para 75 anos a idade máxima de aposentadoria para magistrados, será votada. Num gesto combinado, o presidente do Senado, Renan Calheiros, anunciou que a emenda constitucional será promulgada tão logo a Câmara conclua a votação, sem emendas.

Dilma Rousseff teria a oportunidade de nomear cinco novos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) até o fim do segundo mandato, em 2018, o que significaria uma Corte cuja maioria teria sido nomeada por ela. Celso de Mello, Marco Aurélio Mello, Ricardo Lewandowski, Teori Zavascki e Rosa Weber, que se aposentariam nos próximos quatro anos, terão a opção de continuar por mais cinco anos cada, a contar dos 70 anos.

Com a aprovação da PEC da Bengala, restará apenas a vaga em aberto pela aposentadoria precoce do ex-presidente do STF Joaquim Barbosa. Mesmo assim, essa nomeação terá de ser compartilhada com o PMDB. Renan já disse a Dilma que a aprovação da indicação pelo Senado dependerá do nome que apresentar. É por isso que a indicação demora tanto, pois o candidato do Planalto é o advogado-geral da União Luís Inácio Adams, cujo nome não passa pelo crivo da Casa. Dilma quebra os ovos, mas não sabe fazer uma omelete.

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