terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

À flor da terra


Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 10/02/2014

 Ao acusar a oposição de golpista e transformar o assunto num escudo contra as denúncias da Operação Lava-Jato, o PT levou para as redes sociais a palavra maldita 

Visita de Dilma Rousseff a Campo Grande na terça passada
Será que já caiu a ficha no Palácio do Planalto? A presidente Dilma Rousseff está diante de uma nova correlação de forças na sociedade, na qual a oposição passou a ter sintonia com a maioria da população, e o governo perdeu a iniciativa política.

 Recém-reeleita, ela caminha para a desagregação de suas bases de sustentação e o isolamento político.

Aparentemente, Dilma não se deu conta de que deveria estar na defensiva; parece aquele lutador que beijou a lona e volta disposto continuar uma luta franca no centro do ringue, em vez de procurar as cordas para ganhar tempo e esperar bater o gongo.

Foi mais ou menos essa a reação do Palácio do Planalto ao resultado da pesquisa Datafolha divulgada no sábado, que mostra o derretimento da imagem do governo e do prestígio popular de Dilma Rousseff.

A primeira reação do governo foi reorientar a agenda externa da presidente da República e decidir relançar programas anunciados na campanha eleitoral, como o Minha Casa, Minha Vida 3 e o Mais Especialidades, na área da Saúde. Parece autismo.

Os sinais de desapego à realidade surgiram na reunião ministerial em que a presidente da República negou a mudança que houve na política econômica do governo a partir da posse de Joaquim Levy no Ministério da Fazenda.

Resultado: em dezembro passado, Dilma tinha 42% de ótimo e bom e 24% de ruim e péssimo; na pesquisa divulgada no sábado, o ótimo e bom desabou para 27% (ou seja, 23 pontos de queda), e o ruim e péssimo explodiu: foi a 44%, ou seja, 20 pontos a mais.

Uma espécie de tempestade perfeita formou-se no país: a inflação disparou, o nível de emprego caiu, as tarifas de transportes e energia elétrica subiram, a gasolina ficou mais cara, a água sumiu das torneiras de São Paulo, Minas, Rio e Espírito Santo e agravou-se a seca no Nordeste. O prestígio de Dilma desabou em todo o país.

Em vez de cortar na própria carne, reduzir o ministério (são 39 ministros) e enxugar os cargos comissionados de direção e assessoramento (22,7 mil) para dar o exemplo, o governo resolveu fazer o ajuste fiscal somente à custa da sociedade, com elevação de impostos, corte de benefícios sociais e de um confisco salarial da classe média via Imposto de Renda, cujo reajuste de 6,5% Dilma vetou.

A imagem dela foi diretamente atingida pela corrupção na Petrobras, que a presidente tentou varrer para debaixo do tapete: 80% dos entrevistados acham que a presidente da República sabia das irregularidades e 52% acreditam que deixou que os desvios continuarem.

Para 50%, ela perdeu seu maior ativo de imagem: a honestidade. É muita gente invocada: 54% consideram Dilma falsa, e outros 50% a chamam de indecisa. É aí que mora o perigo.

Impeachment

O Brasil pós-eleições ficou mais parecido com a Argentina e a Venezuela, com maquiagem de estatísticas, irresponsabilidade fiscal, manipulação de preços e tarifas, decisões voluntaristas e discurso populista. Dilma venceu as eleições, mas não parece capaz de fazer um bom governo.

Acreditava que a saída da crise mundial seria lideradas pelos países emergentes, entre os quais o Brasil, mas a recuperação da economia está sendo liderada pelas velhas potências do Ocidente das quais se distanciou: Estados Unidos, Alemanha e Inglaterra, principalmente.

A nova política econômica busca recuperar a credibilidade do Brasil no mercado financeiro mundial, mas Dilma quer manter a estratégia desenvolvimentista que entrou em colapso devido aos escândalos envolvendo a Petrobras e as principais empreiteiras do país.

A contaminação pode chegar à Eletrobras e aos fundos de pensão, por causa das obras superfaturadas, dos contratos e dos aditivos irregulares. Os financiamentos privilegiados, no apagar das luzes de 2014, custaram R$ 30 bilhões aos cofres do Tesouro para tapar o rombo do BNDES.

O novo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que impôs uma derrota humilhante ao governo na sua eleição, tomou as rédeas da iniciativa política das mãos da presidente da República. A toque de caixa, pretende votar uma reforma eleitoral e partidária a tempo de implementá-la nas próximas eleições municipais.

E o impeachment? Não, não está na pauta dos políticos, mas, ao acusar a oposição de golpista e transformar o assunto num escudo contra as denúncias da Operação Lava-Jato, o PT levou para as redes sociais a palavra maldita.

Nenhum comentário:

Postar um comentário