Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 19/11/2014
A opinião pública
está cada vez mais convencida de que o financiamento das campanhas
eleitorais por empresas virou sinônimo de favorecimento,
superfaturamento e desvios de recursos públicos
A disputa pela Presidência da
Câmara dos Deputados ganhou um novo ingrediente com o avanço da Operação
Lava-Jato: a necessidade de blindar a presidente Dilma Rousseff contra
um eventual pedido de impeachment. Esse passou a ser o centro das
preocupações do PT em relação à eleição do deputado Eduardo Cunha
(PMDB-RJ), cuja candidatura ao comando da Casa tem o apoio maciço da
bancada do seu partido, principal aliado do governo.
Em tese,
nada existe que possa justificar um pedido de impeachment da presidente
da República, mas não se sabe o que pode acontecer com os desdobramentos
das investigações. Se o PT teme o apeamento da Presidência, deve ter
seus motivos. Por muito menos, o ex-presidente Fernando Collor de Mello
foi derrubado do poder. Por hora, entre as forças de oposição, não
existe nenhuma iniciativa nesse sentido. A rigor, o maior interessado no
afastamento de Dilma seria o PMDB, cujo presidente nacional é o vice
Michel Temer.
A resistência ao nome de Eduardo Cunha na bancada
governista é muito menor do que se imagina, inclusive entre os deputados
petistas. Segundo o presidente do PT, Rui Falcão, porém, o partido firmou
posição contrária ao nome do líder do PMDB. No Palácio do Planalto, o
ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, e o ministro das Relações
Institucionais, Ricardo Berzoini, não se cansam de falar aos aliados que
Cunha está vetado pela presidente.
O PT teme que se repita um
cenário semelhante ao do mensalão, que abalou fortemente a estrutura do
partido, resultando, inclusive, na condenação e prisão de suas
lideranças históricas. À época, o impeachment do então presidente Luiz
Inácio lula da Silva chegou a ser cogitado por setores da oposição, mas
não prosperou porque o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso defendeu a
tese de que era melhor deixar o petista sangrar até as eleições. Lula
sangrou, mas acabou reeleito.
Naquele momento, o então presidente
da Câmara dos Deputados, Aldo Rebelo (PCdoB- SP), a quem caberia dar
prosseguimento à tramitação de um pedido de impeachment, teve papel
fundamental. Aliado de primeira hora de Lula, Aldo rechaçou qualquer
conversa sobre o assunto. Ninguém sabe exatamente o que pesa contra o
tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, na Operação Lava-Jato. Se alguém
além do próprio sabe, é o atual presidente do PT, pois os dois são como
corda e caçamba.
Regras do jogo
Paralelamente
ao escândalo da Petrobras, no Congresso os temas do financiamento de
campanha e da reforma política estão na ordem do dia. A opinião pública
está cada vez mais convencida de que o financiamento das campanhas
eleitorais por empresas virou sinônimo de favorecimento,
superfaturamento e desvios de recursos públicos. O Supremo Tribunal
Federal (STF), majoritariamente, é favorável ao fim das doações de
pessoas jurídicas a partidos e candidatos.
O PT advoga o
financiamento público de campanha de forma integral, mas a opinião
pública tende a rejeitar a proposta, devido à alta carga de impostos e
ao desgaste dos políticos. A tendência é uma solução híbrida, que amplie
os recursos do fundo partidário e limite as doações às pessoas físicas.
Essa solução pode vir do Judiciário, mas o Congresso estuda se
antecipar e mudar as regras do jogo para as próximas eleições
municipais.
A regulamentação das eleições municipais não depende
de emenda constitucional, pode ser feita por lei ordinária e maioria
simples (metade mais um dos presentes). Assim, seria mais fácil adotar
mudanças nas eleições para as câmaras municipais, seja o voto em lista —
como deseja o PT — ou o voto distrital — como advoga o senador Aloysio
Nunes Ferreira (PSDB-SP), que apresentou projeto de emenda ao Código
Eleitora aplicável às cidades com mais de 200 mil habitantes.
Essas
mudanças serviriam para reduzir o número de candidatos e baratear as
campanhas. E poderiam criar a massa crítica necessária à aprovação de
uma emenda constitucional que replicasse a experiência nas eleições para
as assembleias legislativas e a Câmara Federal. Até para se defender
das acusações de envolvimento partidário com o escândalo da Petrobras,
os caciques do PMDB e do PP também devem apoiar propostas de mudanças
nas regras eleitorais.
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