segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Não se ganha de véspera

Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 06/10/2014

Repete-se o cenário de "guerra de posições" entre governo e oposição no segundo turno, protagonizado pelo PT e pelo PSDB, que se mantiveram como alternativas de poder



Os resultados do primeiro turno da eleição são um indicativo de que a reeleição da presidente Dilma Rousseff (PT) é apenas uma possibilidade, pois seu favoritismo está seriamente abalado pela diferença de apenas sete pontos percentuais para o principal candidato de oposição, Aécio Neves (PSDB). A grande votação obtida por Marina Silva (PSB) tem a marca dos votos oposicionistas, ainda mais depois da forma como a candidata do PSB foi “desconstruída” pelos adversários.

Graças ao notável desempenho da nossa Justiça Eleitoral, tão logo a votação foi encerrada no Acre, que tem duas horas de diferença de fuso horário em relação a Brasília, três quartos dos votos apurados no processo eleitoral já estavam contabilizados. Ou seja, os primeiros resultados oficiais revelavam um quadro eleitoral mais ou menos definido. Confirmou-se, assim, a arrancada do candidato do PSDB, que havia sido apontada pela maioria das pesquisas desde domingo passado.

É previsível que um novo realinhamento eleitoral venha a ocorrer antes mesmo do reinício dos programas de tevê e rádio de Dilma e Aécio, que vão para o segundo turno. Esse realinhamento será determinado pela inércia do comportamento do eleitorado nesta última semana, que registrou o viés de alta do tucano e a estagnação da petista. O percentual de votos da candidata à reeleição repete mais ou menos os índices que vinham sendo apontados há um mês nas pesquisas de primeiro turno. Ou seja, a presidente da República está próxima do seu próprio teto eleitoral.

Nova eleição
Um breve retrospecto do primeiro turno registra três momentos significativos: no primeiro, até a morte do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos (PSB), havia o favoritismo de Dilma Rousseff e a tradicional polarização entre PT e PSDB, com Aécio na sequência; no segundo, após a tragédia aérea que vitimou o candidato do PSB, houve o espetacular avanço de Marina, que se manteve como favorita até duas semanas antes da eleição; o terceiro, com a recuperação do favoritismo de Dilma, registrou também uma gradativa e vigorosa recuperação de Aécio, que acabou por ultrapassar Marina e encostar em Dilma a poucos dias do pleito.

Repete-se, assim, o cenário de “guerra de posições” entre governo e oposição, protagonizado pelo PT e pelo PSDB desde a eleição de Fernando Henrique Cardoso, em 1994. Os dois partidos mantiveram como alternância de poder, embora a construção da chamada “terceira via” não possa ser inteiramente desconsiderada. Com sua grande votação, Marina Silva conservou a fatia do eleitorado que havia conquistado em 2010.

A candidata do PSB, porém, está diante de uma encruzilhada: ou bem reafirma a vocação oposicionista, declarando apoio a Aécio Neves, ou abdica da liderança conquistada, proclamando neutralidade, como ocorreu nas eleições presidenciais passadas. O comportamento do PSB no segundo turno ainda é uma incógnita, o mesmo pode se dizer da sua Rede Sustentabilidade. O PPS, que apoiou Marina, deve restabelecer a sua tradicional aliança com o PSDB.

Os demais candidatos a presidente da República não terão nenhum papel significativo no segundo turno. A rigor, somente Luciana Genro (PSol)) pontuou no primeiro turno, com 1,5% dos votos. Do ponto de vista das alianças, porém, o fantasma da “cristianização” volta a rondar a campanha de Dilma Rousseff.

Aécio, ao contrário de Marina, tem amplo trânsito junto a setores governistas descontentes com a a atuação do PT, do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da própria presidente Dilma nas respectivas campanhas regionais. São os casos, por exemplo, de Paulo Skaf, em São Paulo; de Eunício Oliveira, no Ceará; e de Ivo Sartori, no Rio Grande do Sul.

Um outro aspecto importante na disputa de segundo turno é a chamada “paridade de armas”, já que Dilma e Aécio disporão do mesmo tempo de televisão, o que não acontecia antes. Há que se destacar, porém, a questão do uso da máquina administrativa da União na campanha eleitoral. Episódios ocorridos na reta final da eleição exigem apuração e maior vigilância da Justiça Eleitoral. Tudo indica que a carga de dramaticidade e virulência na campanha eleitoral tende a aumentar até o dia 26 de outubro.

Os números

Dilma Rousseff (PT) obteve 43,2 milhões (41,6%) de votos e Aécio Neves, 34,8 milhões (33,5%). Marina Silva (PSB) recebeu 22,1 milhões (21%) de votos. Destaque para a abstenção, que atingiu 27,6 milhões (19%) de eleitores.

Dilma Rousseff venceu em 15 estados, três a menos do que na eleição do ano passado, com destaque para o Piauí, Maranhão e Ceará, no Nordeste, onde obteve mais de 70% dos votos. 

Aécio venceu em nove estados, sendo São Paulo, com 44% dos votos, o determinante para sua ida ao segundo turno.

Em termos absolutos, a maior vantagem de Dilma foi na Bahia, com 3 milhões de votos a mais do que Aécio. Em termos político, sua vitória mais expressiva foi em Minas Gerais, terra de Aécio Neves, mas com vantagem apertada: 44% a 43%, tendo Marina recebido 14%. As maiores derrotas foram em Goiás e Pernambuco, além do Espírito Santo, onde Aécio venceu.

Um capítulo à parte foi a disputa em São Paulo, na qual o tucano Geraldo Alckmin foi eleito com folga no primeiro turno (57, 31% dos votos) e José Terra teve uma votação consagradora para o Senado (58,49%).  Aécio Neves teve 43, 7% dos votos; Dilma, 26,1%; e Marina 23,9%. 

Governadores
Foram eleitos no primeiro turno os governadores de Alagoas, Renan Filho (PMDB); Bahia, Rui Costa (PT); Espírito Santo, Paulo Hartung (PMDB); Maranhão, Flávio Dino (PCdoB); Minas, Fernando Pimentel (PT); Mato grosso, Pedro taques (PDT); Pernambuco, Paulo Câmara (PSB); Piauí, Wellington Dias (PT); Paraná, Beto Richa (PSDB); Santa Catarina, Raimundo Colombo (PSD); Sergipe, Jacson Barreto (PMDB); Geraldo Alckmin (PSDB), São Paulo; e Tocantins, Marcelo Miranda (PMDB).







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