quinta-feira, 21 de agosto de 2014

A anticampanha

Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 21/08/2014

Qualquer outro presidente da Petrobras já teria sido demitido do cargo para estancar a crise política na qual a empresa mergulhou, mas Dilma e Graça são parceiras de longa data, duronas e mandonas. 


Um dos problemas de qualquer candidato que pleiteia a reeleição é administrar a agenda negativa do próprio governo. Esse é o calcanhar de Aquiles que pode apeá-lo do poder. No maioria dos casos, trata-se de blindar os pontos fracos e trombetear as ações bem avaliadas nas pesquisas de intenção de voto. No caso da presidente Dilma Rousseff, há dois “issues” dos quais ela não consegue se desvencilhar: os petistas enrolados com malfeitos e os escândalos da Petrobras. Ontem, foi mais um dia em que ambos roubaram a cena.

Por unanimidade, o Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara dos Deputados aprovou o pedido de cassação do mandato do ex-petista André Vargas (sem partido-PR). O deputado Júlio Delgado (PSB-MG), relator do caso, recomendou a punição do parlamentar, que é investigado por manter relações com o doleiro Alberto Youssef. Ele suspeito de intermediar contratos com o Ministério da Saúde em favor do laboratório Labogen, de Youssef. O doleiro foi preso em março pela Polícia Federal, na Operação Lava-Jato, por participação em esquema de lavagem de dinheiro.

Vargas é um casca-grossa petista, ocupava a vice-presidência da Câmara quando o escândalo estourou. Muito influente na bancada do partido, era um dos líderes do movimento “Volta, Lula!”. Havia se notabilizado por afrontar o então presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro aposentado Joaquim Barbosa, durante solenidade na Câmara, na qual posou de punho cerrado ao lado do magistrado, em solidariedade aos petistas condenados no processo do mensalão.

Ao contrário de outros parlamentares alvejados por denúncias, que preferiram renunciar ao mandato, Vargas manobra nos bastidores da Câmara para evitar uma cassação. Não renuncia porque teme ter a prisão decretada. Considera-se abandonado pela cúpula do PT, que o obrigou a se desfiliar da legenda.

Cada vez que Vargas põe os pés na Câmara, joga mais lama na imagem do PT, cujo desgaste já foi grande no caso do julgamento do mensalão, o que acaba na conta da presidente Dilma. Com a decisão de ontem, o parlamentar pode recorrer à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), com efeitos suspensivos. O ex-deputado alega que não quebrou o decoro e denuncia a Comissão de Ética. Segundo ele, o processo foi conduzido com açodamento e politização excessiva. Ou seja, Vargas continuará produzindo notícias negativas.

Petrobras
Apesar da maciça propaganda nos meios de comunicação, a Petrobras é outro problema para Dilma Rousseff, que pretende transformar a exploração do pré-sal numa das bandeira de seu novo mandato. A compra superfaturada da refinaria de Pasadena, no Texas (EUA), aprovada quando Dilma era presidente do Conselho de Administração da empresa, porém, continua sendo uma dor de cabeça para a campanha da presidente da República.

O Tribunal de Contas da União (TCU) adiou novamente a análise sobre o bloqueio dos bens da presidente da Petrobras, Graça Foster, amiga do peito de Dilma. O ministro José Jorge, entretanto, decidiu manter o voto que pede a indisponibilidade dos bens de Graça Foster. Retirou o processo da pauta porque, segundo o site do jornal O Globo, ela e o ex-diretor da Área Internacional da empresa Nestor Cerveró doaram imóveis a parentes após o escândalo sobre a compra da refinaria de Pasadena, no Texas (EUA), para evitar o bloqueio judicial desses bens. No mês passado, o TCU determinou a devolução de US$ 792,3 milhões aos cofres da Petrobras pelos prejuízos causados ao patrimônio da empresa.

Para José Jorge, o fato somente confirma a necessidade de aprovar a indisponibilidade dos bens. “Se isso for verdade, e dependendo da sua extensão, configura uma burla ao processo de apuração da irregularidade. É gravíssimo”, disse. Qualquer outro presidente da Petrobras já teria sido demitido do cargo para estancar a crise política na qual a empresa mergulhou. Ao contrário, em situação inédita, o advogado-geral da União, Luís Inácio Adams, foi encarregado pela Presidência da República de defendê-la pessoalmente. Dilma e Graça são parceiras de longa data e têm personalidades semelhantes: são duronas e mandonas.

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