Correio Braziliense - 02/05/2014
O governo tapa o sol com peneira ao fugir de um diagnóstico sobre o que acontece com 62 milhões de brasileiros em idade de trabalhar que não procuram emprego. Um cruzamento com dados do Ipea mostraria que, entre eles, estão cerca de 10 milhões de jovens "nem-nem"
Detonada pelo Palácio do Planalto, que mandou suspendê-la depois de um
questionamento da senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), ex-ministra-chefe da
Casa Civil, da tribuna do Senado, a pesquisa ampliada do IBGE sobre o
mercado de trabalho (Pnad Contínua) mostra uma realidade que ainda vai
dar muito o que falar e influenciará os resultados da campanha
eleitoral: temos um exército de 62 milhões de brasileiros em idade de
trabalhar — ou seja, 39% da chamada população economicamente ativa — que
desistiram de procurar emprego. Quem são, por que não procuram um posto
de trabalho? São perguntas que passaram o Primeiro de Maio, Dia do
Trabalhador, sem a devida resposta.
O Brasil tem 92 milhões de trabalhadores, com nível de ocupação da ordem
de 57% da população em idade de trabalhar. Oficialmente, os
desempregados no Brasil pós-Lula são apenas 4% dessas pessoas, isto é,
6% dos que procuram emprego. Pelas estatísticas do Ministério do
Trabalho, o desemprego no Brasil é menor do que o da maioria dos países
europeus. No entanto, Coreia do Sul (3,9%), Japão (3,6%), Noruega (3,5%)
e Suíça (3,2%) desmentem a tese de que temos a menor taxa de desemprego
do mundo, como propaga o marketing oficial.
Esse é um dos mitos da era pós-Lula que a pesquisa ampliada do IBGE
derrubaria. A tese do pleno emprego se ampara em dados de apenas seis
regiões metropolitanas, que mostram desemprego na casa dos 5%. A Pnad
Contínua mostra taxa mais alta, de 7,1% na média de 2013, e, sobretudo,
desigualdades regionais: no Nordeste, o desemprego médio do ano ficou em
9,5%. Nossa taxa real de desemprego estaria acima à dos Estados Unidos,
que foi de 6,7% em março. A pesquisa ampliada permitiria comparações
com taxas apuradas no passado por amostras de domicílios. Números do
Ipea mostram que o desemprego atual é semelhante, por exemplo, ao medido
na primeira metade nos anos 1990.
O governo tapa o sol com peneira ao fugir de um diagnóstico sobre o que
acontece com 62 milhões de brasileiros em idade de trabalhar que não
procuram emprego. Um cruzamento com dados do Ipea sobre a juventude
mostraria que entre são cerca de 10 milhões os jovens nem-nem, com menos
30 anos, que também não estudam, ou sejam, que tendem a permanecer fora
do mercado de trabalho para o resto da vida. Nesses milhões de não
empregados, digamos assim, certamente há deficientes físicos que não
encontram colocação, negros que são discriminados, mulheres que se
dedicam apenas ao lar, pessoas acomodadas pelo Bolsa Família,
encarcerados nos presídios, concurseiros em busca de um cargo público
etc. Quantos são eles? Aparentemente, o governo não quer saber ou, pior,
não quer revelar. Com certeza, porém, a resposta não está no velho
samba de quadra do falecido Enildo Barbudinho, famoso radialista e
sambista de Niterói, cujo nome intitula a coluna e fala do malandro que prefere ganhar a vida com o baralho.
Primeiro de Maio
O ato da Força Sindical em comemoração pelo Dia do Trabalho ontem em São
Paulo virou um meeting da oposição. Secretário-geral da Presidência, o
ministro Gilberto Carvalho foi vaiado, embora seja um velho conhecido
dos sindicalistas. Recebeu apupos ao falar das medidas anunciadas pela
presidente Dilma Rousseff na quarta feira, em cadeia nacional de rádio e
televisão, ou seja, o aumento de 10% no valor do Bolsa Família e a
atualização da tabela do Imposto de Renda da Pessoa Física.
As estrelas do evento foram o senador Aécio Neves (PSDB-MG) e o
ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos (PSB), que desceram o pau na
atual política econômica e foram muito aplaudidos, uma cena inusitada
para os trabalhadores paulistas. O presidente licenciado da central
sindical, o deputado federal Paulinho da Força, que preside o
Solidariedade, exagerou nas críticas à presidente Dilma Rousseff: chegou
a pedir ao público que mandasse uma banana para a presidente.
Acostumado a abordar só o que realmente interessa, nosso camarada Luiz Carlos assinala o que talvez seja o problema sócio-político mais importante da atualidade: os 'contra-emprego', essa formidável massa de sangue novo que mais e mais está sendo usada para derrubar regimes (Líbia, Egito, Ucrânia etc)e como mão-de-obra para o crime organizado (tráfico, pornografia, prostituição).
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