quinta-feira, 27 de março de 2014

O jabuti na plataforma

 Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense: 26/03/2014

 Dificilmente, a CPI será instalada com os votos do PMDB. A Petrobras, na prática, está reaproximando o partido ao PT e ao governo. 

 Vitorino Freire foi um político pernambucano que, após a Revolução de 1930, fez carreira no Maranhão, estado pelo qual foi eleito senador três vezes e onde exerceu forte influência, até a ascensão do ex-presidente José Sarney. Era um dos líderes do antigo PSD, apoiou o golpe militar de 1964 e terminou a carreira política na Arena. É dele a célebre frase sobre o jabuti em cima da árvore, segundo a qual é melhor não mexer no quelônio: se não foi enchente, foi mão de gente que o pôs no galho.

Foi exumado com ironia pelo líder do PSDB no Senado, Aloysio Nunes Ferreira (SP), a propósito dos escândalos envolvendo operações da Petrobras, dos quais a presidente Dilma Rousseff tenta se afastar. “Jabuti, sozinho, não sobe em árvore. Quem colocou os jabutis Paulo Roberto Costa e Nestor Cerveró na cúpula da Petrobras tem muita força no Congresso, e de tudo fará para impedir investigações parlamentares, sobretudo a CPI sobre a negociata de Pasadena.”

O tucano mira o PT e o PMDB, que controlam os cargos da direção da empresa desde o governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Líder do PPS na Câmara, Rubens Bueno (PR) tenta recolher assinaturas para a instalação de uma CPI mista para investigar a Petrobras, aproveitando o racha na base do governo, mas o líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ), que anda às turras com Dilma Rousseff, já mandou recado para o Palácio do Planalto de que não porá mais lenha no fogaréu. Ou seja, dificilmente a CPI será instalada com os votos do PMDB. A Petrobras, na prática, está reaproximando o partido ao PT e ao governo, embora o escândalo tenha provocando estranhamento entre o senador petista Delcídio do Amaral (MS) e o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), por conta dos ex-diretores da empresa que estão enrolados.

Como as borboletas

Paulo Roberto Costa, ex-diretor da estatal preso pela Polícia Federal (PF) na semana passada, durante a Operação Lava Jato, é o jabuti que mais assusta o governo. Suspeito de participação em esquema de lavagem de dinheiro num caso aparentemente sem relação com a compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, grampos da investigação revelariam um propinoduto que supostamente o ligaria à empresa. Costa era um dos diretores mais importantes da Petrobras na gestão de Sérgio Gabrielli, época em que Dilma, por ser ministra da Casa Civil, presidia o conselho de administração que aprovou as operações. O caso de Cerveró, responsável pela análise técnica da compra de Pasadena, é café pequeno diante do indigesto envolvimento de Costa com um doleiro que operava o esquema.

Ontem, a presidenta da Petrobras, Graça Foster, foi convocada pelo Senado a prestar esclarecimentos sobre a aquisição da refinaria de Pasadena. Houve um acordo entre parlamentares governistas e de oposição para que o convite fosse aprovado pelas comissões de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e de Fiscalização e Controle (CMA) e de Assuntos Econômicos (CAE). Quem conhece os rituais da Casa, sabe que isso significa água na fervura da CPI, por mais constrangedor que seja. Em se tratado do escândalo, porém, não custa nada lembrar outro político famoso, o ex-governador mineiro Magalhães Pinto, para quem a política é como uma nuvem: você olha, está de um jeito; olha de novo, está de outro. Reza a lenda que um jabuti, quando cai da árvore, pode provocar uma tempestade — como as borboletas.

Meia-volta, volver

A pedido do ex-presidente Lula, Dilma deve deslocar a ministra Ideli Salvatti da Secretaria de Relações Institucionais para a Secretaria de Direitos Humanos, no lugar de Maria do Rosário (PT-RS), e convocar para a missão um dos integrantes do grupo de petistas descontentes com o Palácio do Planalto, o deputado Ricardo Berzoini (SP). É apoiado pelos deputados Marco Maia (RS), Devanir Ribeiro (SP), José Mentor (SP), Carlos Zarattini (SP), Cândido Vaccarezza (SP) e André Vargas (PR). Todos jantaram com o líder do PMDB, Eduardo Cunha, na casa do presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), na semana passada, inclusive o provável novo ministro.

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