Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense e Estado de Minas - 31/03/2014
Quem mandou os militares de volta para a caserna foi o voto popular nas
eleições de 1974, 1978, 1982 e 1986, além da campanha das Diretas Já
“A
verdade é filha do poder. Nós, militares, nunca fomos intrusos na
história.” A frase, do ex-ministro do Exército Leonidas Pires Gonçalves,
aos 94 anos, em entrevista à Folha de S. Paulo, merece profunda
reflexão. Fiador da transição à democracia — tanto da eleição de
Tancredo Neves no colégio eleitoral, como da posse do ex-presidente José
Sarney —, o general liderou a retirada em ordem dos militares do poder e
sua volta aos quartéis, onde permanecem, conforme determina a
Constituição de 1988. Houve um grande acordo entre os militares e os
políticos para que a democratização do país se desse sem mais
derramamento de sangue.
Uma parte da esquerda participou da
negociação, que resultou na Lei da Anistia e na derrota do ex-governador
paulista Paulo Maluf no colégio eleitoral, mas um setor mais radical da
oposição, encabeçado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
nunca aceitou o pacto, assim como os militares da chamada linha-dura.
Hoje, por ironia, a presidente Dilma Rousseff é uma ex-militante da luta
armada. A sociedade promove um ajuste de contas político e moral contra
os militares torturadores e assassinos. Quer passar a limpo os porões
do regime militar. A velha guarda militar reage, pois se considera
salvadora da pátria, hipoteticamente ameaçada pelo comunismo durante o
governo deposto de João Goulart.
O positivismo
Exatamente
porque nunca foram intrusos na história — pelo contrário, durante o
império, o Exército é que garantiu a integridade territorial do país –,
os militares foram protagonistas de todas as rupturas institucionais e
tentativas de golpe de Estado ocorridas no Brasil. Influenciados pelo
positivismo de Auguste Comte (1798-1857), destronaram dom Pedro II, em
1889, e proclamaram a república. Os políticos abolicionistas e
republicanos foram meros coadjuvantes; o povo assistiu bestializado à
queda da monarquia constitucional. O positivismo fez escola também entre
os políticos gaúchos, a partir de Júlio de Castilhos, e influenciou
fortemente a esquerda, sobretudo depois que uma ala do movimento
tenentista, liderada pelo capitão Luiz Carlos Prestes, assumiu o comando
do Partido Comunista.
A Revolução de 1930, que levou Getúlio ao
poder e liquidou a República Velha; a Intentona de 1935, em que os
comunistas tentaram tomar o poder; e o golpe do Estado Novo, em 1937, no
qual Getúlio tentou implantar um regime fascista, foram momentos
importantes da nossa história nos quais o povo novamente ficou à margem.
A destituição de Getúlio, em 1945, quando houve a democratização; a
posse de Juscelino Kubitschek, em 1956; a crise da renúncia de Jânio
Quadros e a posse de João Goulart, em 1962, foram momentos em que houve
intensa agitação militar.
Tão forte é a presença do positivismo
na política brasileira que sua fórmula está perpetuada na nossa
bandeira: ordem e progresso. “O amor por princípio, a ordem por base, o
progresso por fim”, ou seja, cada coisa em seu devido lugar para a
perfeita orientação ética da vida social. Durante o regime militar, o
lema ganhou uma interpretação específica: desenvolvimento e segurança,
que se traduziu em projetos faraônicos, como a Transamazônica, e na
violenta repressão à oposição, com torturas e assassinatos.
A guerra fria
O
peso atribuído à Guerra Fria na deflagração do golpe de 1964 é
exagerado e legitima o radicalismo de direita e de esquerda que ocorreu à
época. “O Castelo Branco era um patriota. Deu o golpe na nossa frente”,
disse-me, certa vez, o então secretário-geral do Partido Comunista
Brasileiro (PCB) Salomão Malina. Herói da tomada de Montese, na Itália,
durante a 2ª Guerra Mundial, Malina fazia parte do grupo de ex-militares
que comandava o antigo Partidão, ao lado de Prestes, Giodondo Dias,
Dinarco Reis e outros ex-oficiais e ex-soldados. No livro A ditadura
envergonhada, Elio Gaspari narra um encontro de Prestes com o líder
soviético Nikita Kruschev, em Moscou, no qual defendeu a reeleição de
Jango e afirmou que o “dispositivo militar” do general Argemiro Assis
Brasil, ministro da Guerra de João Goulart, seria capaz de “cortar a
cabeça” da reação.
A ideia de que o embate entre João Goulart e
os governadores da antiga Guanabara, Carlos Lacerda, e de Minas Gerais,
Magalhães Pinto, seria decidida por tal dispositivo militar era um
equívoco. Não levou em conta que a agitação e a quebra de hierarquia nas
Forças Armadas acabaria facilitando a vida de velhos conspiradores das
casernas, como os generais Costa e Silva, Ernesto e Orlando Geisel,
Golbery do Couto e Silva e Mourão Filho, esses, sim,
eméritos golpistas. Os generais Humberto Castelo Branco, chefe do
estado-maior, e Amauri Kruel, comandante de São Paulo, aderiram ao golpe
por causa disso, bem como políticos liberais, como Juscelino, que era o
candidato favorito às eleições de 1965, com 37% nas pesquisas.
Não
é exagero afirmar que houve um brutal erro de avaliação da correlação
de forças e de condução política por parte de João Goulart, Leonel
Brizola e Prestes, embora nada justifique o que houve depois disso: a
ditadura fascista. A tese de que o golpe militar poderia ser derrotado
pelas armas justificou outro equívoco: o voluntarismo foquista de Carlos
Marighela e outros líderes, que optaram pela luta armada contra o
regime e foram dizimados. Não tinha a menor chance de dar certo. Quem
mandou os militares de volta para a caserna foi o voto popular nas
eleições de 1974, 1978 e 1982, além da campanha das Diretas Já,
liderada por Ulyssses Guimarães, em 1983/84, e a eleição de Tancredo Neves para a
Presidência no colégio eleitoral, em 1985.
NÃO ENTENDI POR QUE PULOU O PERIODO GETULIO EM QUE FOI DEPOSTO EM 1954? NAO ENTENDI POR QUE DEIXOU DE FRISAR QUE A TRANSICAO DA DITADURA MILITAR SIGNIFICOU ENTREGAR O PODER A UMA TURMA DE POLITICO SABIDAMENTE VAGABUNDA. BOM, NAO GOSTEI DO RESUMO DA HISTORIA DO BRASIL. CLARO, QUE OUTROS, INCLUSIVE EU, FAÇAM MELHOR
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