Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo |
Correio Braziliense - 04/11/2013 |
A cultura da violência está
plasmada no cotidiano da população, associada ao simpático "jeitinho",
quase sempre sinônimo de iniquidades e privilégios
Grupos de jovens mascarados, organizados pela internet, principalmente os black blocs, não são um fenômeno local e ocasional. O movimento se espalhou pelo mundo inteiro, é um problema com o qual os regimes democráticos são obrigados a conviver. Despertam a simpatia de jovens adolescentes, uma febre entre estudantes secundaristas de nossas cidades, inclusive do interior. Ao contrário dos Anonymous, organização mais sofisticada, o black bloc nem sequer se considera uma organização. Forma grupos autônomos, que se comunicam pela internet e se infiltram nas manifestações, a pretexto de defender os seus participantes da violência policial. Crentes de que estão na vanguarda das mudanças anticapitalistas, são portadores de velhas ideologias e novas teorias pseudorrevolucionárias; contam com certa simpatia de intelectuais progressistas e velhos militantes de esquerda, mas suas ações violentas acabam por prejudicar e esvaziar movimentos democráticos legítimos. Esse diagnóstico seria suficiente para que as forças de segurança identificassem os responsáveis pelo vandalismo e impedissem sua ação predadora. Mas o problema é complexo. No Brasil, a violência é a “banalização do mal”, para usar a expressão de Hannah Arendt, popularizada pelo filme sobre o julgamento do criminoso nazista Adolf Eichmann em Jerusalém. A filósofa judia-alemã escreveu muito sobre a condição humana e as raízes do totalitarismo. Quando houve o plebiscito do desarmamento, as forças políticas e instituições democráticas do país apoiaram a campanha para a proibição da venda de armas; a chamada “bancada da bala” ficou isolada. Mas o povo disse “não” ao desarmamento. A maioria quis preservar o direito de se defender pelos próprios meios, não confia na polícia. O cotidiano da população é violento e as forças de segurança também são protagonistas dessa violência. Vimos isso no caso do pedreiro Amarildo, torturado até a morte por policiais de uma “unidade de pacificação” da Rocinha, no Rio de Janeiro. E também na morte do adolescente Douglas Rodrigues, de 17 anos, na periferia de São Paulo, vítima de um “descuido” do policial que o abordou. “Por que o senhor atirou em mim?”, foram suas últimas palavras, as mesmas que intitulam a coluna. A cultura da violência está plasmada no cotidiano da população, associada ao simpático “jeitinho”, quase sempre sinônimo de iniquidades e privilégios. O povo está desassistido devido a políticas públicas dominadas por grandes interesses econômicos, seja na educação seja na saúde ou na própria segurança pública. A grande síntese dessa violência são as milícias e os negócios que elas protegem nas favelas e periferias. É sinuosa a fronteira entre o bem e o mal, entre o policial e o bandido; às vezes, nem sequer existe. As manifestações dos jovens estão desnudando o outro lado do anacronismo do nosso sistema de segurança pública. A truculência policial indiscriminada é a demonstração de falta de adestramento e de foco na solução do problema. O simples endurecimento da legislação, que atenta contra direitos e garantias individuais, também não resolve a questão. O despreparo de nossas polícias para lidar com o vandalismo nas manifestações de protestos dos jovens de classe média é o mesmo que caracteriza suas ações contra jovens suspeitos apenas por serem negros, mulatos e pardos, durante a perseguição a bandidos. A diferença é que usa balas de borracha. Sargento de milícias Velhos métodos e práticas policiais sobrevivem desde os tempos de Leonardo Pataca, o anti-herói de Manuel Antônio de Almeida, em Memórias de um sargento de milícias (Editora Ática). Folhetim publicado em 1852-53, conta a história de um vadio que acaba se transformando num sargento de milícias no tempo de D. João VI. O major Vidigal, outro protagonista da história, realmente existiu. Temido e respeitado, era policial e juiz ao mesmo tempo, como se julgou o major Edson Raimundo dos Santos, que comandava a UPP da Rocinha e condenou à morte o pedreiro Amarildo. Quanta diferença para o coronel Reinaldo Simões Rossi, da PM de São Paulo, que manteve a disciplina da tropa sob seu comando, apesar de agredido por manifestantes mascarados. |
Gostei muito. A cultura da violência está disseminada aqui no Rio de Janeiro. Ninguém mais acredita na polícia e na justiça para resolver as suas pendências.É no tapa.
ResponderExcluirMais sobre os blacks:
Nas histórias de vampiros,eles só entram numa casa se derem licença. Por isso, nas cenas sempre perguntando "Posso entrar?" (aliás um grande filme de vampiro tem esse nome "Deixe-me entrar".
Os blacks tem semelhanças com que acabo de dizer. Eles não se infiltram, eles só entram onde são chamados.Você viu black nas greves dos bancários ou dos correios? Não estavam lá. Mas nos dos petroleiros entraram, porque a FUP solicitou aos movimentos sociais que participassem da manifestação, então, lá estavam eles. Na greve dos professores eles estavam porque grande parte do professorado do Rio caiu sob a influência dos anarquistas e radicais comunistas (integrantes dos blacks).