Fogo na estrada

Por Luiz Carlos Azedo
Com Leonardo Santos

O ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento (PR), ganhou uma sobrevida. Quase dançou no fim de semana, mas foi salvo pela chamada correlação de forças no Congresso. O princípio da "presunção da inocência", que prevaleceu na conversa de ontem com a presidente Dilma Rousseff, só existe pra valer no Judiciário; no Executivo, não resiste às pressões políticas.


Nascimento tem o apoio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, seu padrinho no ministério. Sempre foi um aliado estratégico do PT no Amazonas. Seu partido, o PR, é importante para a sustentação política do governo. A volta de Nascimento ao Senado diminuiria a bancada do PT de 14 para 13 senadores, e aumentaria a do PR de cinco para seis. O rompimento mudaria a situação confortável do governo no Senado. Dilma hoje tem mais de três quintos dos votos da Casa, o suficiente para anular a oposição.

O circo também poderia pegar fogo na Câmara, onde o PR tem 40 votos e lidera um bloco com mais sete partidos nanicos, do qual fazem parte 24 deputados. Essa turma está feliz da vida com a atuação do Ministério dos Transportes. A frigideira, porém, continua ligada. Nascimento segue o ritual dos ministros poderosos quando são defenestrados. Geralmente, ardem na fogueira até pedir arrego.

Rolha//

Em conversa com jornalistas pouco depois da posse, a presidente Dilma disse que pretendia tapar os "ralos" da administração. Não citou nenhum, mas o do Dnit estava entre os notórios. A forma como foram demitidos os assessores do ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, deu início a uma "operação fecha ralos" na Esplanada.

Homem-bomba

O diretor do Dnit, Luiz Antonio Pagot, virou um homem-bomba. Ninguém sabe como reagirá à demissão sumária após denúncias de suposta cobrança de propina na sua área de atuação. O mesmo vale para Mauro Barbosa da Silva, Luiz Tito Bonvini e o presidente da Valec, Francisco das Neves, apadrinhado do deputado Valdemar Costa Neto (SP), secretário-geral do PR e um dos réus no processo do mensalão no Supremo Tribunal Federal (STF).

Linha de tiro

Líder do PSDB na Câmara, Duarte Nogueira (foto), de SP, protocolará hoje duas representações no Ministério Público Federal. Uma delas solicita a abertura de investigações sobre suposto esquema de cobrança de propina no Ministério dos Transportes; a outra, acusa o ministro-chefe da Controladoria-Geral da União, Jorge Hage, de prevaricação.

Leão

Das oito medidas provisórias em pauta na Câmara, duas mexem diretamente com o bolso do contribuinte: a MP nº 528/11 corrige em 4,5% a tabela do Imposto de Renda de Pessoa Física; já a MP nº 529/11 reduz a alíquota de contribuição do microempreendedor individual para a Previdência Social de 11% para 5%

Teses

O PPS pretende discutir a carta do ex-governador José Serra (PSDB) sobre o papel da oposição no governo Dilma Rousseff como uma das teses de seu congresso. "Pode ajudar no debate que estamos fazendo em torno de nossas propostas para o Brasil, que serão aprovadas no mês de dezembro", explica o presidente do PP, deputado Roberto Freire (SP).

Escudeiro

Da bancada de 15 deputados do PV, apenas o carioca Alfredo Sirkis seguirá Marina Silva na saída da legenda. Avalista da conversão da ex-senadora petista aos "verdes", o ex-guerrilheiro lança hoje, no restaurante Carpe Diem (104 Sul), o livro O efeito Marina — bastidores da campanha que mudou o rumo das eleições, editado pela Nova Fronteira. Sirkis pediu licença temporária do PV para não comprometer seu mandato.

Prioridade

O governo corre contra o relógio para aprovar no Senado a MP que trata do regime diferenciado de contratação para obras relacionadas à Copa do Mundo e às Olimpíadas, aquela das contas secretas nas licitações. Tenta remover as restrições na base governista para evitar uma mudança no texto, o que obrigaria a MP a voltar para a Câmara. O problema é que ela perde a vigência no dia 14. O Senado entrará em recesso no dia 18 e a oposição promete obstruí-la.

Governadores/ O Planalto tenta convencer os governadores de que é boa para todos a sua proposta de redução das alíquotas do ICMS em operações interestaduais para 4% no máximo. Na sexta-feira, o Ministério da Fazenda apresentará os termos da mudança aos secretários de Fazenda de todo o país. A maioria é contra.

Vila Branca/ O comandante da Marinha, almirante-de-esquadra Júlio de Moura Neto, inaugura hoje a Vila Branca, em Campo Grande, na Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro. O novo alojamento da Marinha abrigará 912 atletas durante os Jogos Militares Rio-2011, de 16 a 24 de julho. Tem 396 apartamentos, em 22 blocos.