sábado, 1 de janeiro de 2011

A hora da estrela

Por Luiz Carlos Azedo
Com Leonardo Santos


Dilma Rousseff assume a Presidência da República hoje como protagonista de uma revolução de gênero, a ascensão das mulheres ao mais alto cargo político do país. Realizou a dupla proeza de chegar ao poder sem jamais exercer um cargo eletivo e superar todos os preconceitos que surgiram no seu caminho. Isso não seria possível sem o apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do seu partido, o PT, de cujo núcleo histórico não faz parte. Mas Dilma cumpriu a sua parte. É a nova estrela política que brilha.

Com um passado de militante revolucionária - participou de uma organização que aderiu à luta armada contra o regime militar, razão pela qual foi presa, torturada e cumpriu três anos de cadeia -, assume o poder como uma esfinge. Desde a eleição, recolheu-se à Granja do Torto, evitou declarações e entrevistas.

Ninguém ainda sabe o que Dilma Rousseff pretende fazer em relação a temas como a reforma política, o desajuste fiscal, a crise da Previdência, o desequilíbrio cambial e as relações com os Estados Unidose a China, que estão na ordem do dia. Não promoverá uma ruptura com a política de Lula, mas novas metas precisam ser anunciadas. A Nação aguarda seu discurso de posse para saber das novidades.

Governistas

A viga mestra do governo Dilma é a aliança entre os dois maiores partidos do país: o PT e o PMDB. A montagem do governo, independentemente de eventuais insatisfações, reflete essa aliança. Do ponto de vista eleitoral, as duas forças foram decisivas para a vitória. Como será o desempenho de ambas na hora de garantir a governabilidade? A resposta virá na eleição da Mesa da Câmara. A candidatura do deputado petista Marco Maia (foto) não empolga os demais aliados da base governista, mas tem o apoio dos principais partidos de oposição, o PSDB e o DEM.

Oposição

Derrotados por Dilma Rousseff, o tucano José Serra e a verde Marina Silva se fingem de mortos, mas estão vivíssimos. Serra, que hoje prestigia a posse do governador tucano, Geraldo Alckmin, já disse que pretende exercer sua liderança na oposição. Marina se mantém ativa como porta-voz de uma agenda ambiental cada vez mais estratégica. Como ambos estão sem mandato, o líder de oposição que emerge no Congresso é o ex-governador de Minas, o tucano Aécio Neves (foto), que assume o mandato de senador.

Economia

Recrudesceram as críticas ao desempenho fiscal do governo. O resumo da ópera: a União arrecadou 28% mais do que o previsto, executou apenas 26% dos investimentos programados e terminou o ano tentando driblar o deficit fiscal. Com a inflação em alta, o mercado prevê alta dos juros e cortes nos investimentos. É a política do ´mais do mesmo`: câmbio flutuante, meta de inflação e equilíbrio fiscal. A opção audaciosa seria uma paulada nos juros para reduzir o custo da dívida pública, uma espécie de cavalo de pau que mudaria o rumo da economia. É arriscado demais para Dilma.

Diplomacia

Fala-se numa inflexão na política externa brasileira, cujo consenso foi abalado no governo Lula. Sem o mesmo protagonismo internacional, Dilma herda relações esgarçadas com os Estados Unidos e seus principais aliados por causa do episódio do acordo do Brasil com o Irã sobre seu programa nuclear. A escolha do embaixador Antônio Patriota para o Ministério das RelaçõesExteriores ensejaria uma certa aproximação com os Estados Unidos e nova postura comercial em relação à China. Será?

Militares

Velho ditado popular diz que chumbo trocado não dói. Os militares têm certa admiração pela presidente eleita Dilma Rousseff, uma sobrevivente da repressão do regime militar à oposição de esquerda, sobretudo aos que aderiram à luta armada. A pedido de Lula, Dilma manteve o ministro da Defesa, Nelson Jobim, e os atuais comandantes militares. A experiência mostra que longas permanências no alto comando levam à formação de grupos e exacerbam disputas políticas nas Forças Armadas.

Partido alto

´Se acaso acontecer uma mulher na Presidência/ É sapiência, é sapiência// Se surgir uma mulher/ que ocupe a Presidência/ lucrará muito a nação/ dando fim à divergência (#)`, Mulher na Presidência, de Aniceto do Império (1912-1993), estivador e sambista do Rio de Janeiro.

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