quarta-feira, 29 de setembro de 2010

De onde menos se espera

Por Luiz Carlos Azedo
Com Leonardo Santos


A campanha de Dilma Rousseff (PT) deu as costas para a velha classe média, aquela que não forma mais a opinião do povão capturado eleitoralmente pela petista antes mesmo de a disputa eleitoral ganhar as ruas. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixou no sereno os aliados do PMDB em dificuldades, como Hélio Costa, em Minas Gerais, e Iris Rezende, em Goiás, sem falar nos que atropelou sem dó nem piedade na disputa eleitoral, casos de Geddel Vieira Lima, na Bahia, e José Fogaça, no Rio Grande do Sul. Candidatos a governador, todos são caciques do maior partido da coligação encabeçada pelo PT.

O resultado é que a vitória de Dilma no primeiro turno subiu no telhado. De acordo com o Datafolha divulgado ontem, a petista perde 8% dos eleitores na faixa de renda entre dois e cinco salários mínimos; 5% na faixa entre cinco e 10 salários; e 10% entre os que ganham mais de 10 salários. Na classe média, quem mais fatura com o desgaste é Marina Silva (PV). Nas camadas sociais de maior poder aquisitivo e mais escolarizadas, José Serra (PSDB) recupera terreno.

A cinco dias da eleição, Dilma caiu de 54% para 51% dos votos válidos, enquanto Serra, Marina, Plínio de Arruda Sampaio (Psol) e os demais candidatos saltaram de 46% para 49%. Nesse cenário, a eleição pode ser decidida amanhã no debate da TV Globo entre os quatro principais presidenciáveis. Porém, surge outra variável: o corpo mole dos candidatos do PMDB que estão sendo derrotados e apostam no segundo turno para negociar posições no futuro governo.

Duas táticas

A coalizão com o PMDB começou a atravessar o samba quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu como certa a eleição de Dilma no primeiro turno e mudou o foco de seu esforço eleitoral para a disputa em São Paulo. Levar a eleição para o segundo turno no bastião tucano, para depois eleger o petista Aloizio Mercadante governador do estado, passou a ser a prioridade, inclusive do ponto de vista da aplicação dos recursos de campanha. Na prática, isso passou a ser mais importante do que agarrar com as duas mãos a vitória de Dilma no primeiro turno nos demais estados.

Ministério

A aliança com o PMDB - para não falar de outros aliados -, porém, é muito complicada. Os peemedebistas querem mais recursos de campanha e a presença de Lula e Dilma nos respectivos estados, mas o cobertor ficou curto. E a eleição, em alguns estados, já se definiu. Uma vitória de Dilma no primeiro turno é um cheque em branco para a montagem do futuro governo. Esses setores do PMDB querem que a negociação com a legenda ocorra antes do segundo turno, com a candidata enfraquecida.

Bombeiro

Empenhado na vitória de Dilma no primeiro turno, por motivos óbvios, o vice Michel Temer, do PMDB paulista, percorre o país para mobilizar os candidatos da legenda e apagar os focos de incêndio na aliança. Nos últimos dias, esteve com Geddel Vieira Lima, candidato ao governo da Bahia, e foi também a Rondônia e ao Rio Grande do Norte. Amanhã, vai a São Paulo, onde o partido ficou órfão da candidatura de Orestes Quércia, e ao Rio de Janeiro, onde o presidente Lula quer derrotar o candidato ao Senado Jorge Picciani (PMDB).

Tira-teima

Mais duas pesquisas serão divulgadas hoje sobre a sucessão presidencial, uma da Confederação Nacional dos Transportes (CNT), realizada pelo Instituto Sensus, e outra do Datafolha, encomendada pela TV Globo.

Tropas

Além dos recursos contra a impugnação de centenas de candidaturas, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) examina, à toque de caixa, pedidos de envio de tropas federais para garantir as eleições em 171 municípios

Reforço

Sem a presença de Dilma, o presidente Lula participa hoje de comício em Aracaju (SE). É uma deferência especial ao governador petista Marcelo Déda, candidato à reeleição, que lidera com folga as pesquisas de intenção de voto para o governo do Sergipe. Com Jaques Wagner (PT) e Eduardo Campos (PSB), na Bahia e em Pernambuco, respectivamente, Déda compõe um forte tripé de apoio a Dilma Rousseff no Nordeste.

Saídas

O Supremo Tribunal Federal (STF) examina hoje o desfecho do julgamento do pedido de impugnação da candidatura de Joaquim Roriz (PSC), que desistiu da disputa pelo Governo do Distrito Federal (GDF).
O ministro Carlos Ayres Britto, que relatou o caso, defende o voto de qualidade do presidente do STF, ministro Cezar Peluso, para desempatar o resultado, que ficou em 5x5.

Imprevisível/ Disputa dramática pelo Senado no Ceará, com Tasso Jereissati (PSDB) na liderança, assediado por Eunício Oliveira (PMDB) e José Pimentel (PT). Cid Gomes (PSB), candidato à reeleição, lideraa disputa pelo governo do estado, mas vem caindo nas pesquisas.

Pressões/ Crescem as pressões para que os candidatos em risco de impugnação com base na Lei da Ficha Limpa renunciem à disputa em favor de parentes ou aliados. É o que acontece com Jackson Lago (PDT), candidato a governador do Maranhão, e Jader Barbalho (PMDB), candidato ao Senado no Pará. Correligionários temem que seus votos sejam anulados, favorecendo os adversários, se as impugnações forem confirmadas.

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