Por Luiz Carlos Azedo
Com Leonardo Santos
O compositor Chico Buarque, com bom humor e argúcia política, certa vez sugeriu ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva criar o "Ministério do Vai dar Merda". Talvez tenha se inspirado em seu falecido pai, Sérgio Buarque de Holanda, um dos fundadores do PT e autor da tese de que o brasileiro é um "homem cordial". Buarque atribuiu ao velho patriarcado nacional a existência de um nefasto personagem da vida brasileira: o funcionário "patrimonial", aquele que não separa o público do privado e se distingue do que deve ser um burocrata moderno.
"O Estado não é uma ampliação do círculo familiar e, ainda menos, uma integração de certos agrupamentos, de certas vontades particularistas de que a família é o melhor exemplo. Não existe entre o círculo familiar e o Estado uma gradação, mas antes uma descontinuidade e até uma oposição", afirma em Raízes do Brasil. Escrito há quase 75 anos, seu livro ainda hoje é leitura obrigatória nas escolas de administração pública do país.
Segundo Buarque, a oposição entre os dois princípios existe desde a Grécia de Sófocles, na qual a cólera do Creonte contra a sobrinha Antígona encarna a luta "abstrata e impessoal" da cidade de Tebas contra a "realidade concreta e tangível que é família" dos descendentes de Édipo.
Tradução
"O conflito entre Antígona e Creonte é de todas as épocas e preserva-se sua veemência ainda em nossos dias", advertia Buarque de Holanda, o pai. "Em todas as culturas, o processo pelo qual a lei geral suplanta a lei particular faz-se acompanhar de crises mais ou menos graves e prolongadas, que podem afetar profundamente a estrutura da sociedade." A oposição tentou pôr esse tema no eixo da campanha, sem sucesso, pois nada abalava o prestígio da candidata de Lula, ainda mais um tema tão abstrato. Até que a ex-ministra da Casa Civil Erenice Guerra transformou a questão num caso concreto e deu de bandeja para o tucano José Serra um discurso de campanha mais inteligível para o eleitor. O problema é que Serra não pode encarnar Creonte sem parecer cruel, nem atribuir a Dilma o papel de Antígona sem transformá-la em vítima.
Volátil
O que mais chama a atenção no tracking dos programas eleitorais é a volatilidade da opinião dos que só agora começam a acompanhar o horário eleitoral. É aí que mora o perigo para a campanha de Dilma Rousseff (PT) e também as esperanças da oposição, tanto do tucano José Serra como de Marina Silva (PV) e Plínio de Arruda Sampaio (PSol), que esperam herdar votos perdidos pela petista.
Ficha limpa
Na próxima quarta-feira, o Supremo Tribunal Federal (STF) deve decidir o destino político do candidato ao Governo do Distrito Federal, Joaquim Roriz. Dois pontos importantes serão definidos pela Corte. O primeiro é sobre a retroatividade da Lei da Ficha Limpa. Em caso afirmativo, os ministros terão que definir quais situações de inelegibilidade podem retroagir à lei. O caso de Roriz foi a renúncia ao mandato de senador.
Destinos
Ao decidir o caso Roriz, o Supremo balizará os destinos de Maria de Lourdes Abadia (PSDB-DF), Jader Barbalho (PMDB-PA), Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), Marcelo Miranda (PMDB-TO) e Paulo Rocha (PT-PA), candidatos ao Senado. E dos candidatos a governador Expedito Júnior (PSDB-RO), Roseana Sarney (PMDB-MA) e Jackson Lago (PDT-MA).
Finalmente
O ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) Aldir Passarinho Júnior, relator do processo que pode resultar na cassação do governador de Sergipe, o petista Marcelo Déda pediu a inclusão do caso na pauta de julgamentos. A previsão é que a matéria seja julgada já na semana que vem. O petista é acusado de abuso de poder político e econômico nas eleições de 2006. Absurdamente, disputa o segundo mandato sem saber se a eleição para o primeiro legalmente valeu. Na prática, não resta dúvida.
Manhoso
Depois de fazer cera, o deputado Paulo Maluf, candidato à reeleição pelo PP-SP, recorreu ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para tentar garantir a sua candidatura. Maluf teve o registro cassado pelo Tribunal Regional Eleitoral paulista após ser enquadrado na Lei da Ficha Limpa. O candidato foi condenado pela Justiça por compra irregular de mais de uma tonelada de frango enquanto era prefeito de São Paulo. O relator do caso de Maluf no TSE é o ministro Marco Aurélio Mello.
De menos
O segundo repasse do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) de setembro não repetirá os valores de agosto passado. No acumulado do ano, está 1% abaixo do que foi repassado em 2009. Amanhã, descontado o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb), serão creditados nas contas das prefeituras o valor total de R$ 304.429,335
Boca de urna / O governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), candidato à reeleição, mandou imprimir, às pressas, novo material de campanha para os candidatos ao Senado Lindberg Farias (PT) e Jorge Piccianni (PMDB). Os dois passaram a campanha se digladiando e não havia nenhum panfleto com a chapa completa da coligação majoritária.
Tangente / O filho de um importante senador justificou a entrada de US$ 54 milhões na Suíça como fruto de comissão de uma obra realizada em um estado brasileiro. Naquele país não é considerado crime, mas o Ministério Público está investigando se o montante é fruto de corrupção passiva aqui no Brasil.
Chacina / Chega hoje ao México uma equipe da Polícia Federal para fazer o reconhecimento de dois corpos que devem ser de brasileiros mortos numa chacina ocorrida há três semanas. O governo brasileiro havia firmado um acordo de cooperação técnica com o México para a identificação de parte dos 72 mortos, mas não houve interesse das autoridades mexicanas.
Dilma e os seus mostram não têm respeito pelo Estado Democrático de Direito e todas as instituições. Uma pena!!
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