quarta-feira, 3 de março de 2010

A deriva dos democratas

Por Luiz Carlos Azedo
luizazedo.df@dabr.com.br
Com Norma Moura


Era inevitável. Começou o ataque especulativo à candidatura do governador de São Paulo, José Serra (PSDB), à Presidência da República. Assediado nas pesquisas de opinião pela candidata governista, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), o tucano agora enfrenta as especulações de que não teria pegada para derrotar a ampla coalizão formada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em torno da petista. E que uma nova pesquisa, caso Dilma ultrapasse Serra nas intenções de voto, poderia levá-lo a jogar a toalha e optar por concorrer à reeleição ao Palácio dos Bandeirantes.

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Uma velha raposa do Democratas revelou à coluna, ontem, que a maioria da cúpula da legenda deriva em direção à outra candidatura. Quereria resgatar a candidatura do governador de Minas, Aécio Neves (PSDB), convencida de que a teimosia com que Serra adia a oficialização de sua candidatura é puro cálculo político para desistir da disputa. Tal decisão poderia ocorrer nos próximos 15 dias, diante do fato de que a situação eleitoral na Região Sudeste está se modificando irreversivelmente em favor de Dilma, principalmente no Rio de Janeiro, Espírito Santo e Minas Gerais. Serra teria plena consciência de que enfrenta um quadro cada vez mais desfavorável, além de ver reduzida sua vantagem em São Paulo.

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Por essa razão, a cúpula da legenda já sinalizou para Aécio Neves — que se recusa a aceitar ser vice de Serra — que o considera um candidato com mais perspectivas, pois arrastaria a maioria dos votos do Sudeste, com uma vantagem avassaladora em Minas, muito maior que a de Serra em São Paulo. Além disso, atrairia novos aliados para a coalizão oposicionista.

Pressão

Porta-voz de Serra na bancada tucana da Câmara, o deputado Jutahy Magalhães (BA) perdeu a fleuma e resolveu engrossar o coro dos que pressionam Serra para assumir formalmente a candidatura a presidente da República. Está cada vez mais difícil acalmar o grupo carlista na Bahia, cujo candidato a governador, Paulo Souto, se queixa da indefinição de Serra.


Fracasso

Sem consenso interno, PT e PSDB vão liberar suas bancadas durante a votação da PEC que efetiva os donos de cartórios sem concurso público. Após a alteração do texto original, incluindo entre os beneficiados apenas os titulares que assumiram as funções entre 1988 e 1994, os líderes decidiram votar o projeto. Petistas e tucanos apostam na falta de vontade política, representada em 308 votos, para enterrar a proposta.


Fatura

Segundo o corregedor nacional de Justiça, ministro Gilson Dipp,
há cartórios que chegam a movimentar R$ 500 mil por mês


Vai e vem

Ciro Gomes (foto) pretende comunicar ao presidente Lula que não aceita ser candidato a governador de São Paulo, garantem caciques do PSB que apoiam sua corrida ao Palácio do Planalto. Está convencido de que sua candidatura à Presidência é robusta, tanto que vem resistindo ao rolo compressor governista. O problema de Ciro é o tempo de televisão, que assusta a bancada federal. O ex-ministro da Integração Nacional precisa desesperadamente de uma coligação para garantir a legenda. Se não conseguir, perderá o apoio do governador de Pernambuco e presidente do PSB, Eduardo Campos, que dificilmente continuará apoiando-o.


Sinal

Renato Simplício foi reeleito presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Distrito Federal, por 271 votos a 84, derrotando Paulo Castanheira, candidato apoiado pelo ex-governador Joaquim Roriz (PSC). Renato é aliado do deputado federal Rodrigo Rollemberg (PSB-DF), autor do projeto de regularização dos assentamentos de Brasília.


Apoio

A existência de um pacto no Judiciário contra a impunidade, defendido pelo presidente nacional da OAB, Ophir Cavalcante, foi saudada na tribuna do Senado por Pedro Simon (PMDB-RS), que previu “uma nova forma de fazer política” após a prisão do governador licenciado do Distrito Federal, José Roberto Arruda. O senador disse concordar plenamente com o posicionamento de Ophir Cavalcante quanto à necessidade de se priorizar processos contra quem tem o dever de cuidar dos recursos públicos.


Arrogância

“O PT criou com completo ineditismo no Poder Legislativo a figura da ‘desconvocação’ de uma autoridade governamental que deporia no Congresso Nacional”, comentou o líder do PSDB na Câmara, deputado João Almeida (BA). A irritação do tucano deve-se à manobra da base aliada, que conseguiu “desconvocar” a ministra Dilma Rousseff, que iria depor na Comissão de Constituição e Justiça do Senado sobre o 3º Plano Nacional de Direitos Humanos (PNDH). Segundo Almeida, nem no tempo da ditadura isso aconteceu.


Forca

Aloizio Mercadante (PT) voltou do Chile, depois de participar da viagem de Lula àquele país, com a corda no pescoço. Daqui pra frente, a pressão para que seja candidato ao governo de São Paulo só vai aumentar. Entre os petistas de São Paulo, está sendo chamado de fujão por insistir em disputar a reeleição ao Senado. Mercadante reiterou a Lula que não aceita o sacrifício.

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