domingo, 20 de dezembro de 2009

Retalhos do passado

Por Luiz Carlos Azedo
luizazedo.df@dabr.com.br

A queda do presidente Washington Luís, magistralmente descrita no livro 1930 – Os Órfãos da Revolução, do jornalista Domingos Meirelles, marcou o fim da política café-com-leite, como era chamado o pacto entre as oligarquias de São Paulo e Minas na República Velha. Paulistas e mineiros se revezavam no poder, mas Washigton Luís, “paulista de Macaé (RJ)”, como se dizia na época, resolveu apoiar a candidatura de Júlio Prestes, presidente do estado de São Paulo como candidato à sua sucessão.

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Minas, Paraíba e Rio Grande do Sul se rebelaram contra a decisão, que contou com apoio dos demais 16 estados. Júlio Prestes venceu as eleições contra Getúlio Vargas, presidente do Rio Grande do Sul, o candidato da Aliança Liberal, mas foi acusado de fraude pela oposição. O assassinato do presidente da Paraíba, João Pessoa, vice na chapa de Vargas, um crime de natureza passional, mas que incendiou as paixões políticas, precipitou a Revolução de 30. Na chefia da conspiração político-militar, Vargas assumiu o poder e nele permaneceu por 15 anos.

O troco


A Revolução de 30 somente teve sucesso por causa do apoio do presidente de Minas, Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, que introduziu o voto secreto nas eleições mineiras e havia articulado a Aliança Liberal, insatisfeito com o fato de Washington Luís ter indicado um paulista para sucedê-lo. Antônio Carlos deu troco na cúpula do velho Partido Republicano. É dele a famosa frase: “Façamos a revolução pelo voto antes que o povo a faça pelas armas”.

A reação

Inconformados com a perda do poder e da autonomia do estado, os paulistas reagiram ao governo provisório de Vargas de armas na mão em 1932. Foram 87 dias de combates, de 9 de julho a 4 de outubro, com um saldo oficial de 934 mortos (alguns autores falam em mais de 2,2 mil). Os mineiros apoiaram Vargas, que enviou mais de 100 mil soldados para São Paulo. Apesar da grande mobilização civil — 200 mil voluntários — a revolta paulista foi sufocada na capital e nas cidades do interior, algumas bombardeadas. Era um movimento democrático, mas foi caracterizado como separatista para o resto do Brasil pela máquina de propaganda de Vargas. Pesou na balança a velha soberba paulista.

E daí?

O que tem a ver o último conflito armado da história do Brasil com a sucessão de Lula em 2010? A rigor, as circunstâncias são diferentes. E a história só se repete como farsa ou tragédia, diria o corifeu da praxis. Mas, no mundo político, são esses episódios da história do Brasil que alimentam o suspense criado pela decisão do governador de Minas, Aécio Neves, de se retirar da disputa pela Presidência da República e concorrer a uma vaga no Senado, ou à vice de José Serra (foto).

Dura Lex

Cético em relação ao projeto de lei do governo que torna hediondos os crimes de corrupção praticados por autoridades da administração pública estadual, municipal e federal, o presidente nacional da OAB, Cezar Britto (foto), critica o Judiciário. “É preciso julgar os processos envolvendo corruptos de forma mais rápida, punindo-os exemplarmente, em vez de o governo propor tipos penais novos ou tornar mais rigorosos os já existentes, o que de nada adianta”, afirma.

Lamparina

Além do reajuste no valor do Bolsa Família e da ampliação do número de inscritos, o pacote social do governo Luiz Inácio Lula da Silva para o ano eleitoral inclui um substancial aumento no orçamento do programa Luz para Todos. Dos R$ 705 milhões previstos para este ano, o governo elevou a dotação de 2010 para R$ 1,3 bilhão

Liderança/ A bancada do DEM viveu mal-estar por conta da escolha do novo líder na Câmara dos Deputados. O deputado Índio da Costa (RJ) propôs que a sucessão do líder Ronaldo Caiado (GO) fosse antecipada para antes do recesso parlamentar. O paulista Guilherme Campos estrilou, quer o goiano no cargo até fevereiro. Um acordo firmado no início da legislatura prevê que o próximo líder seja Paulo Bornhausen (RJ), mas Abelardo Lupion (PR) luta pela liderança.

Farda/ Entre os lobbies em atividade na Câmara dos Deputados, o mais engajado tem sido o dos policiais militares, em campo pela aprovação do piso nacional único da categoria. Nos fins de semana, uma média de 600 mensagens têm lotado o correio eletrônico da Presidência da Casa pedindo a Michel Temer (PMSB-SP) que leve o assunto à pauta de votações.

Terminal/ O Ministério Público Federal abriu investigação para apurar irregularidades nas obras de interligação dos terminais de passageiros do Aeroporto de Guarulhos. A procuradora Raquel Branquinho Nascimento investiga os contratos de licitação e discrepâncias da obra com o plano
diretor do aeroporto.

Cartório/ O presidente do Sindireceita, Paulo Antenor de Oliveira, critica a proposta de Lei Orgânica do Fisco Federal (Loff). Segundo ele, é mais importante desfazer os atos equivocados da administração passada, recuperar a credibilidade do órgão e voltar a trabalhar com normalidade. “A Lei Orgânica do Fisco deve retratar a realidade do órgão e não criar mais um feudo no serviço público”, dispara.

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