sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Planalto teme rebelião no Congresso


O governo deflagrou ontem uma operação para conter a ameaça de rebelião de sua base de apoio e evitar uma “aventura fiscal” no final da legislatura. Entre os assuntos a serem negociados com a própria base estão o Fundo de Participação dos Municípios, na pauta da Câmara, e a renegociação das dívidas dos estados, que deve ser votada no Senado na próxima semana.

O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB), mandou recado ao Planalto ao dizer que conversar “não arranca pedaço” e que a nova agenda nacional terá que ser negociada com o Congresso.

O presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB), em conversa com o  ministro Aloizio Mercadante, da Casa Civil, que tenta conter a rebelião,  não escondeu as mágoas com o ex-presidente Lula, a quem atribui sua derrota ao governo do Rio Grande do Norte.

Este é o maior problema do governo: muita insatisfação dos derrotados da própria base nos estados onde houve disputas com o PT.

Dívidas

Há também uma legião de aliados com contas de campanha a pagar, cobrando os compromissos assumidos pela campanha de Dilma.

O governador reeleito do Piauí, Ricardo Coutinho (PSB), que não apoiou a Marina, cobra R$ 2 milhões da campanha de Dilma, e o senador Lindbergh Farias (RJ), que ficou fora do segundo turno, deve outros R$ 6 milhões.  

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

O strike da Lava-Jato

Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 30/10/2014

Ninguém sabe exatamente o que o doleiro revelou, mas quem foi beneficiado pelo esquema da Petrobras tem consciência de quanto recebeu e como o dinheiro chegou

O doleiro Alberto Youssef deixou ontem o Hospital Santa Cruz, em Curitiba, após receber alta e retornou para a sede da Polícia Federal. Fora hospitalizado após passar mal na carceragem da PF em Curitiba, com forte queda de pressão, sendo internado, na UTI coronariana, o que deu origem a uma onda de boatos à véspera das eleições, de que teria sido envenenado. Na manhã de domingo, nas redes sociais, chegou a circular que ele havia morrido.

Youssef voltará à rotina de depoimentos ao juiz federal Sérgio Moro, considerado uma das maiores autoridades do país em crimes de lavagem de dinheiro por sua atuação no caso Banestado e, depois, como auxiliar da ministra do Supremo Tribunal Federal (STF) Rosa Weber no julgamento do mensalão. Preso desde março deste ano, o doleiro é acusado de chefiar um esquema de desvio e lavagem de dinheiro, estimado em R$ 10 bilhões, desvendado pela Operação Lava-Jato da Polícia Federal, mas entrou em acordo com os procuradores do Ministério Público Federal (MPF) para obter o benefício da delação premiada.

O doleiro se comprometeu a dizer tudo o que sabe sobre o esquema de lavagem de dinheiro que chefiava, em troca de reduções nas penas que podem lhe ser imputadas. Segundo os bastidores da investigação, suas revelações são muito mais contundentes do que as do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto da Costa, que já obteve o benefício da delação premiada. Toda a contabilidade do esquema de desvio de recursos da Petrobras em poder da Polícia Federal estaria sendo destrinchada pelo doleiro nos depoimentos ao juiz federal.

Cerca de 80 políticos com mandato estariam envolvidos no esquema de desvio de recursos, segundo as investigações da Lava-Jato. Com as planilhas, estariam também os comprovantes das transferências de recursos. A Polícia Federal, a Receita Federal e o Banco Central(BC) estão colaborando com as investigações no rastreamento dessas operações. As denúncias podem causar um strike no Congresso, com dezenas de cassações, pois as denúncias seriam acompanhada de provas documentais e não apenas dos testemunhos dos operadores do esquema. Outros envolvidos, inclusive executivos, também já estão negociando a delação premiada com o Ministério Público Federal.

Youssef deveria ontem comparecer à CPI mista que investiga a Petrobras, mas o depoimento foi suspenso por causa do estado de saúde. Se comparecesse, manteria sigilo sobre os depoimentos dados em segredo de Justiça, para não perder o benefício da delação premiada. Citar seu nome no Congresso é como falar de corda em casa de enforcado. Ninguém sabe exatamente o que ele revelou, mas quem foi beneficiado pelo esquema da Petrobras tem consciência de quanto recebeu e como o dinheiro chegou, como uma espécie de Raskólnikov, aquele personagem de Crime e Castigo, de Fiódor Dostoiévski.

Não importa se o recurso foi usado para financiamento de campanha ou em benefício da formação de patrimônio pessoal, se o dinheiro for rastreado, a origem será o superfaturamento ou o desvio de recursos de obras da Petrobras. Boa parte da tensão existente na base governista tem a ver com o fantasma dessas investigações, uma vez que a maioria dos envolvidos seriam ligados ao PT, ao PMDB e ao PP. Há também uma grande expectativa em relação a novas prisões pela Polícia Federal, uma vez que muitos envolvidos, principalmente executivos das empresas flagradas no esquema, não têm direito a foro especial.

No Palácio do Planalto, a presidente Dilma Rousseff foi aconselhada a manter distância regulamentar em relação ao Congresso por causa da Operação Lava-Jato. A proposta de plebiscito para aprovar a reforma política e a busca de apoio junto de entidades da sociedade civil fazem parte de uma estratégia para aproveitar o desgaste do Congresso em razão de novas revelações sobre a Operação Lava-Jato. A própria reforma da equipe de governo estaria em compasso de espera devido a isso, pois há integrantes da atual equipe de governo citados nos depoimentos.

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Ruídos de comunicação

Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense; 29/10/2014

A proposta de plebiscito para a reforma política, que atende aos anseios de alguns setores organizados da sociedade, não encontrou ressonância no Senado e na Câmara, a começar pelo PMDB

 A proposta de plebiscito para a reforma política, que atende aos anseios de alguns setores organizados da sociedade, não encontrou ressonância no Senado e na Câmara, a começar pelo PMDB, que só aceita aprovar a reforma no Congresso e, depois, submetê-la a um referendo popular. Essa é a posição do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que é apoiada pelo presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN). O diálogo da presidente Dilma Rousseff com a base começa, assim, com ruídos na comunicação.

Os comandos das duas Casas, porém, estão na iminência de mudar de mãos. Henrique Eduardo Alves, derrotado na disputa pelo governo do Rio Grande do Norte, está se despedindo da Casa, da qual é decano. A liderança em ascensão é o líder do PMDB, Eduardo Cunha (RJ), que ontem fez uma recepção para sua bancada e hoje inicia as articulações da candidatura a presidente da Câmara com os demais partidos.

Tudo o que a presidente Dilma Rousseff não quer é vê-lo ditando a pauta da Casa. Não foi à toa que ontem chamou o vice-presidente Michel Temer para conversar, antes de sair em férias. O presidente do PMDB saiu do encontro defendendo o acordo do PT com o PMDB que garante o revezamento entre os dois partidos no controle do cargo. Nesse caso, na próxima legislatura, a presidência da Câmara caberia ao PT. Para Cunha, aceitar o acordo é mais ou menos como deixar o cavalo passar arreado.

A novidade maior, porém, parece vir do Senado. Renan Calheiros sinalizou que não pretende concorrer à reeleição. Seu substituto natural seria o líder da bancada do PMDB, Eunício de Oliveira, que acaba de ser derrotado na disputa pelo governo do Ceará e volta a Brasília cheio de mágoas em relação ao Palácio do Planalto, pois foi batido pelo candidato do PT, Camilo Santana, apoiado pelos irmãos Cid e Ciro Gomes, ambos do Pros. Dois ministros de Dilma deverão voltar ao Senado: Garibaldi Alves (RN), da Previdência, e Edison Lobão (MA), de Minas e Energia. O ex-presidente José Sarney, esteio governista, está encerrando a carreira parlamentar.

O PT sempre teve gana de disputar o comando das duas Casas. Na Câmara, Arlindo Chinaglia (SP) e Marco Maia (RS) não escondem o desejo de voltar ao cargo. O líder do governo, Henrique Fontana (RS), é outro interessado. Se houver acordo com o PMDB, a disputa será decidida na própria bancada petista: se não houver, Chinaglia é o nome de mais trânsito entre os pares. No Senado, é muito provável que o PT tente articular uma candidatura alternativa. Jorge Viana (AC) não esconde o desejo de comandar a Casa. Na base governista, o senador Ciro Nogueira (PP) também gosta de uma boa briga.

Quem ganha espaço nesse cenário é a oposição, que pode virar o fiel da balança nessas disputas, se o PMDB e o PT não chegarem a um acordo. Tradicionalmente, o PSDB costuma defender o princípio de que a maior bancada deve indicar o presidente da Câmara e do Senado, mas, se houver um “despelote” governista, a oportunidade não será desperdiçada.

Agenda cabeluda

Dilma acalmou o mercado ao anunciar que pretende mudar a equipe econômica, mas permanece no ar uma agenda de campanha eleitoral que gera tensões políticas e ainda inquieta o mundo empresarial: além do plebiscito, há propostas de controle social da mídia, formação de conselhos populares para decidir sobre políticas públicas (que a Câmara derrubou ontem e agora vai ao Senado) e revisão da Lei da Anistia, entre outras.

Durante a campanha, Dilma acusou a oposição de planejar um choque na economia, com alta de juros, cortes nos gastos públicos e outras medidas de caráter recessivo, que poderiam provocar desemprego. Agora, está diante da necessidade de reajustar o preço da gasolina, dividir os prejuízos do setor elétrico com os consumidores e aumentar ainda mais a taxa de juros para conter a inflação. Ou seja, fazer um pouco daquilo que disse que os adversários fariam.

terça-feira, 28 de outubro de 2014

O enigma da Fazenda

Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 28/10/2014

A escolha do novo ministro tornou-se fundamental para uma mudança nas relações entre o governo e a própria presidente da República com os setores produtivos do país


Os mercados reagiram negativamente à eleição da presidente Dilma Rousseff (PT), com a Bolsa de São Paulo despencando, principalmente por causa da queda das ações da Petrobras e de outras estatais. Estava escrito nas estrelas que isso ocorreria. Dilma, no discurso da vitória, não sinalizou claramente o que pretende na economia. E o ministro Guido Mantega, da Fazenda, não tem muito o que fazer, a não ser arrumar as gavetas e, melancolicamente, esperar o substituto. O problema é que ninguém sabe quem será esse cara.

Ontem, a bolsa de apostas quanto ao futuro do cargo estava agitada. Havia nomes para todos os gostos, desde o do presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, ao do ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, que vinha sendo o porta-voz de Dilma durante a campanha nos temas econômicos. Especulava-se também com os nomes do ex-presidente do Banco Central (BC) Henrique Meirelles e do ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci, que seriam supostamente os favoritos do ex-presidente Lula. Outros nomes cotados são os do ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda Nelson Barbosa; do presidente do BNDES, Luciano Coutinho; e do empresário Josué Gomes da Silva, da Coteminas.

Apesar de muito radicalizada, a campanha eleitoral produziu alguns consensos entre Dilma e a oposição: as conquistas sociais precisam ser mantidas, a corrupção na administração pública deve ser contida, é preciso reduzir a inflação e voltar a crescer, a educação precisa de um salto de qualidade, urge um basta à violência, as questões ambientais, climáticas e energéticas devem ser consideradas mais seriamente, vide o problema da seca no Sudeste, principalmente em São Paulo. O problema é que os recursos públicos para isso são limitados e as mágicas contábeis do secretário do Tesouro, Arno Augustin, não resolvem isso.

Sendo assim, a escolha do novo ministro da Fazenda tornou-se fundamental para uma mudança nas relações entre o governo e a própria presidente da República com os setores produtivos do país. Haveria dois caminhos a seguir: o predomínio de uma política econômica centrada no “mais do mesmo” — câmbio flutuante, meta de inflação e superavit fiscal — ou os experimentos da “economia política”, com manutenção da rota intervencionista no mercado adotada no primeiro mandato. A retórica da campanha eleitoral foi uma afirmação da segunda opção, mas o resultado apertado sugere ao governo ir mais devagar com o andor e trilhar a primeira.

O plebiscito


Um fator político pode ser complicador para o governo no Congresso: a tese de um plebiscito para fazer a reforma política. Há muitas restrições a esse tipo de solução entre os constitucionalistas — a começar pelo vice-presidente, Michel Temer (PMDB). O PT tentou várias vezes aprovar propostas como o voto em lista e o financiamento público de campanha, mas não conseguiu convencer os próprios aliados de que essa seria a melhor alternativa. A proposta do plebiscito surgiu durante as manifestações de junho do ano passado, no bojo de várias articulações do Palácio do Planalto com lideranças dos jovens que participaram dos protestos. Eleitoralmente, foi uma estratégia bem-sucedida, principalmente no segundo turno, quando esses líderes declararam apoio à reeleição de Dilma.

Ocorre, porém, que a representação desses setores no Congresso é irrisória, mesmo se considerando a taxa de renovação de 39%. Dos 513 deputados federais, 290 são políticos reeleitos e 25 deputados estão voltando à Casa. Entre os 138 novos deputados, a maioria é formada por políticos tradicionais (ex-prefeitos e ex-deputados estaduais), e alguns novatos são herdeiros de velhos clãs políticos. Não será fácil para Dilma articular a base do governo para fazer a reforma. E o tema do plebiscito não unifica os partidos aliados.

Mesmo que a presidente Dilma não goste disso, o país saiu das urnas dividido. A derrota de Aécio Neves (PSDB), em termos de votação, é autoexplicativa: a votação imprevista em Minas Gerais. O estado é um mosaico da realidade econômica e social do país. A vitória de Dilma em Minas desequilibrou a balança. Mas, independentemente disso, o político mineiro é agora um líder nacional, ao lado de outros oposicionistas, como José Serra, Geraldo Alckmin e Marina Silva. Durante o segundo turno, essas lideranças caminharam juntas. Construíram uma agenda comum que pautará atuação da oposição, e Dilma deveria levar isso em conta.

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

E agora, presidente?

Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 27/10/2014

Há uma grande expectativa da população e dos agentes econômicos em relação aos próximos passos da presidente reeleita, principalmente em relação à economia

 Chovia em Brasília na noite de ontem quando o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro José Antônio Dias Toffoli, anunciou que a presidente Dilma Rousseff (PT) fora reeleita presidente do Brasil. Foi uma vitória relativamente apertada, numa campanha radicalizada, que dividiu o país e deixou sequelas, pelo clima odiento criado na sociedade, até mesmo em âmbito familiar. Mas foi também uma grande vitória da democracia, e isso é mais importante, pois as eleições transcorreram em clima de normalidade e ninguém contesta o seu resultado, devido à lisura de pleito, o que não seria possível se não tivéssemos um sistema eleitoral democrático, robusto, à prova de fraudes.

Dilma Rousseff foi confirmada no cargo pela inequívoca vontade popular. Está, porém, diante de grandes desafios: o baixo crescimento da economia, a inflação rompendo o teto da meta, a desorganização das contas públicas e a insatisfação de quase a metade da população — a maioria nas regiões meridionais do país — exigem respostas imediatas. A faxina que ensaiou fazer no começo de seu primeiro mandato agora urge, ainda mais, diante da sucessão de escândalos que quase inviabilizou a reeleição. Enfrenta uma situação nebulosa por causa da Operação Lava-Jato, na qual algumas dezenas de políticos e autoridades estariam envolvidos em desvios de recursos da Petrobras.

A oposição emerge das urnas fortalecida, seja pela expressiva votação de seu candidato no segundo turno, o senador Aécio Neves (PSDB), seja pela vitória eleitoral de seus candidatos a governador em estados importantes da Federação. Diante da realidade das urnas, cabe à oposição dar um crédito de confiança à presidente eleita, sem abdicar do papel de criticar e fiscalizar o governo. Dilma foi reeleita sem anunciar um novo programa, apenas com base nos 12 anos de administração petista e de ideias e propostas balizadas pelo marketing eleitoral. Há dois caminhos a seguir: reiterar a estratégia que vem adotando no governo, a qual dividiu o país, ou corrigir os rumos ao montar uma nova equipe ministerial e promover a reconciliação da sociedade.

A retórica da “luta de classes” que norteou a campanha petista é de natureza ideológica e não resolve os problemas do país, embora tenha mobilizado a militância do PT. Prosseguir nessa rota seria o caminho para dividir ainda mais a sociedade e nos levaria à situação semelhante a dos nossos vizinhos da Argentina e da Venezuela. A agenda nacional é objetiva, exige o controle da inflação e um ajuste nas contas públicas para a retomada do crescimento; a melhoria da qualidade do ensino e investimentos em infraestrutura para aumentar a produtividade e a competitividade da nossa economia; melhores serviços à população nas áreas de saúde, transportes e segurança pública; e o combate à corrupção na administração direta e nas empresas estatais, sobretudo a Petrobras.

Divisor de águas

Muito se falou na campanha eleitoral sobre tudo isso, mas é preciso pôr as propostas em prática. Há uma grande expectativa da população e dos agentes econômicos em relação aos próximos passos da presidente eleita, principalmente em relação à economia. O atual ministro da Fazenda, Guido Mantega, foi “demitido” no exercício das próprias funções. Ninguém sabe ainda quem ocupará seu lugar na Esplanada. A definição em relação ao futuro ocupante desse cargo será um divisor de águas. É uma das grandes expectativas sobre o novo mandato. Hoje mesmo, na Bolsa de Valores, teremos os sinais do mercado em relação ao resultado da eleição.

Uma das interrogações do resultado das urnas é em relação ao Congresso, devido à mudança de composição do Senado e da Câmara. Na primeira Casa, estarão alguns dos principais lideres da oposição, entre eles Aécio Neves (PSDB-MG) e José Serra (PSDB-SP), ambos derrotados por Dilma. Com José Sarney fora do Senado, o esteio governista será o senador Renan Calheiros (PMDB-AL), que tentará a reeleição para o comando da Casa. Na Câmara, a sucessão de Henrique Alves (PMDB-RN), o atual presidente, que perdeu as eleições para o governo no Rio Grande do Norte, já acirra os ânimos entre as duas principais forças da base de Dilma: o PT e o PMDB.

Durante a campanha, Dilma reiteradas vezes defendeu a ideia de uma reforma política, por meio de um plebiscito, cujos contornos não são claros. Eis outro ponto de interrogação. Logo após ser eleita, Dilma disse que não acredita na divisão do país e que a energia positiva da disputa eleitoral servirá de base para o país avançar. “Algumas vezes, resultados apertados produziram mudanças mais rápidas”, disse, ao agradecer aos eleitores e aliados pela vitória nas urnas. Fez um chamamento ao diálogo com a oposição em torno dessa reforma, mas não esclareceu os termos das mudanças que propõe.

domingo, 26 de outubro de 2014

Reeleita, Dilma defende plebiscito




A presidente Dilma Rousseff (PT) foi reconduzida ao cargo pelo voto popular, com 51,64% dos votos. Aécio Neves (PSDB), o candidato das oposições, recebeu 48,36%, com 99,98% das urnas apuradas.

Após a eleição, a petista agradeceu o apoio de aliados e militantes do PT, em especial do vice Michel Temer (PMDB) e do ex-presidente Lula, e conclamou a oposição ao diálogo. Negou que o país esteja dividido e defendeu o entendimento para uma reforma política, por meio da convocação de um plebiscito.

A maioria silenciosa

Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 26/10/2014

Hoje, o Brasil se orgulhará de escolher seu presidente da República pelo voto direto e secreto, de forma pacífica e ordeira

Segunda classe - Tarsila do Amaral

Com pesquisas desencontradas, que apontam tanto a vitória do candidato de oposição, Aécio Neves (PSDB), como a reeleição da presidente Dilma Rousseff (PT), o Brasil vai às urnas num clima de grande incerteza. O país parece mergulhado naquele nevoeiro descrito por Fernando Pessoa em seu poema épico intitulado Mensagem: “Ninguém sabe que coisa quer. Ninguém conhece que alma tem, nem o que é mal nem o que é bem. (Que ânsia distante perto chora?) Tudo é incerto e derradeiro.Tudo é disperso, nada é inteiro.”

É uma travessia que depende do voto do eleitor. Embora o debate eleitoral no segundo turno tenha sido pautado pelo retrovisor — a comparação dos dois mandados do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso com os dois do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva —, o que está em jogo é a continuidade do governo de Dilma Rousseff, que termina o primeiro mandato com  crescimento zero e o país pior do que aquele que recebeu, ou a formação de um novo governo, das forças de oposição, sob o comando do senador Aécio Neves (PSDB), ex-governador de Minas.

Há que se considerar a crise mundial, sem dúvida, pois ela impõe limitações ao país, mas um olhar ao redor, para a própria América Latina, desnuda nossas vicissitudes: as escolhas feitas pelo atual governo não deram muito certo. São um rosário de erros: a recusa aos acordos bilaterais de comércio com nossos parceiros europeus; a submissão às chantagens dos nossos vizinhos do Mercosul; a desastrada redução dos juros sem o necessário ajuste nas contas públicas; a volta da inflação e a desindustrialização; as maquiagens e manipulações de dados estatísticos; a incapacidade de enfrentar os problemas de infraestrutura; a tentativa ingênua de estabelecer os lucros das empresas nas parcerias público-privadas; a má-qualidade dos serviços prestados na Saúde, na Educação, nos Transporte e na Segurança; e os escândalos na administração direta e nas estatais, particularmente na Petrobras.

Tudo isso foi varrido para debaixo do tapete durante a maior parte da campanha eleitoral, principalmente no primeiro turno, quando a enorme vantagem em termos de tempo de televisão permitiu ao PT e à presidente Dilma Rousseff mostrar o “outro lado”: os bem-sucedidos programas Bolsa Família; Minha Casa, Minha Vida; Pronatec; Prouni; Mais Médicos, principalmente. Eles “fidelizaram” parcelas expressivas do eleitorado. Desde a origem, miravam a disputa eleitoral, mas é inegável o impacto positivo na vida dos que deles se beneficiam. Não fosse isso, a eleição estaria decidida a favor da oposição.

Desde junho do ano passado, quando ocorreram as grandes manifestações de jovens nas principais cidades do país, há uma insatisfação difusa na sociedade e um forte desejo de mudança na relação entre o Estado e os contribuintes. Além da má-qualidade dos serviços, a degeneração das práticas políticas e a escalada da corrupção na administração pública revoltam os cidadãos. É iminente uma crise política na Praça dos Três Poderes, devido às denúncias contra autoridades e políticos envolvidos na Operação Lava-Jato. Em segredo de Justiça, as delações premiadas do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto da Costa e do doleiro Alberto Yousseff pautaram os últimos dias da campanha eleitoral. E podem, após as eleições, causar um strike no Congresso e na atual equipe de governo.

Há um senso comum entre os políticos de que o caixa dois de campanha eleitoral é uma prática inevitável e as urnas purgam os erros cometidos na disputa política. Para o Ministério Público e a Justiça não é bem assim; nem tudo o que é real na luta política é legal no Estado democrático, digamos assim. Muito provavelmente, após a eleição, a discussão sobre o fim do financiamento de empresas às campanhas eleitorais ressurgirá com força no Congresso, mas como uma espécie de anistia para a sujeira que emerge das relações entre órgãos e empresas públicas, grandes empreiteiras e políticos.

Por essas e outras, a eleição está indefinida. Em circunstâncias normais, a presidente Dilma seria reeleita. É bem-intencionada e dedicada à vida pública. Corre, porém, o risco de perder para o candidato de oposição, Aécio Neves (PSDB), devido aos erros que cometeu e ao envolvimento de seu partido, o PT, e dos principais aliados, o PMDB e o PP, com tantos malfeitos, para usar a palavra de sua preferência quando trata da roubalheira.

Os eleitores que ainda estão indecisos vão ponderar o que está certo e ao que está errado na vida nacional de acordo com a sua consciência. Sem o alarido dos militantes, a maioria silenciosa decidirá os destinos do Brasil nos próximos quatro anos. Apesar de tudo o que aconteceu durante a campanha, mais um vez o Brasil se orgulhará de escolher seu Presidente da República pelo voto direto e secreto, de forma pacífica e ordeira, em eleições à prova de fraudes eleitorais. Assim é a nossa democracia.

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Temperatura máxima

O debate de logo mais na TV Globo será uma espécie de mata-mata, não por causa do que já aconteceu nos debates anteriores, mas por causa da matéria da Veja desta semana, cuja circulação foi antecipada para hoje. A revista publica declaração do doleiro do doleiro Alberto Youssef, preso na Operação Lava-Jato, cuja delação premiada está ainda em fase de depoimentos.

Yousseff:
— O Planalto sabia de tudo!
— Mas quem no Planalto? — perguntou o delegado.
— Lula e Dilma respondeu o doleiro.

O PT partiu com tudo pra cima da publicação, quer que a Justiça Eleitoral mande recolher a revista, o que poderia ser um atentado à liberdade de imprensa. Por outro lado, a Veja não apresenta comprovação do depoimento, faz um denúncia gravíssima sem apresentar provas. Ou seja, sustenta-se na sua própria credibilidade. A oposição não quer deixar barato a denúncia.

A presidente Dilma e o ex-presidente Lula, que lideram a arrancada do PT para se manter no poder, acusam todos os órgãos de imprensa que denunciam o escândalo, mas principalmente a Veja,  de tramarem um golpe contra a reeleição da presidente da República.

Strike

Segundo informações dos bastidores da Polícia Federal, cerca de 50 políticos e autoridades estariam envolvidos na Petrobras para financiar suas campanhas eleitorais. Youssef teria comprovado seu papel de caixa do esquema, visitas aos gabinetes no Executivo e no Legislativo, operações de lavagem e até as contas em paraísos fiscais. Mais de 10 000 notas fiscais atestariam as operações.

Sob sigilo de Justiça, a Operação Lava-Jato ameaça arrastar líderes e dirigentes do PT, do PMDB e do PP, partidos supostamente mais envolvidos nos desvios de recursos da Petrobras, para o epicentro de uma crise política no Congresso e no governo. A delação premiada do ex-diretor de Abastecimento da empresa Paulo Roberto da Costa  é bem fundamentada, pois já foi aceita pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

A presidente Dilma Rousseff diz que o governo está apurando o escândalo, mas mandou sua base emparedar a CPI Mista que investiga as irregularidades na Petrobras. Varreu para debaixo do tapete o envolvimento dos aliados, pelo menos até agora. Vamos ver o que vai acontecer depois da eleição.

Uma coisa, porém, é certa: novas apreensões de documentos, diligências e prisões deverão ocorrer. Os políticos com mandato envolvidos têm certa proteção, porque dependem do STF, mas os que não tem, como o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, e os que ficarão sem mandato a partir de 31 de dezembro, passarão por maus momentos.

Os executivos envolvidos escândalos já estão recebendo orientação dos advogados para requerer o regime de delação premiada. Esse ambiente contamina a reta final da campanha.


Dilma abre 6 pontos sobre Aécio



A três dias da eleição, Dilma Rousseff (PT) assumiu a liderança do segundo turno da corrida presidencial e abriu seis pontos de diferença sobre o candidato do PSB, Aécio Neves, segundo pesquisa Datafolha.
A petista tem 53% das intenções de votos válidos, e o tucano, 47%, Pela primeira vez nesta etapa final, a diferença entre os candidatos está fora da margem de erro da pesquisa – dois pontos para mais ou para menos.
Num intervalo de 14 dias, entre o primeiro levantamento do segundo turno e este, Dilma cresceu seis pontos entre as mulheres, que representam pouco mais da metade do eleitorado, e alcançou 54% dos votos.
Já a rejeição de Aécio entre as eleitoras passou de 33% para 40%. A candidata do PT também ganhou votos entre os mais pobres, que recebem até dois salários mínimos, Nessa faixa, ela passou de 58% para 64%. 

Ibope

Pesquisa do Ibope também registrou crescimento de seis pontos das intenções de voto em Dilma em relação ao levantamento anterior, divulgado na quarta-feira da semana passada. A petista tem agora 49%. Já Aécio caiu quatro pontos e aparece com 41%. O número de indecisos passou de 5% para 3%. O total dos que pretendem votar em branco ou nulo se manteve em 7%. Se forem considerados apenas os votos válidos, Dilma tem 54% e Aécio, 46%. Na pesquisa anterior, a vantagem era do tucano por 51% a 46%.
O novo levantamento apontou uma rejeição a Aécio, que passou de 35% a 42%, enquanto o percentual dos que afirmam não votar em Dilma de jeito nenhum se manteve em 36%. Na resposta espontânea de intenção de voto, Dilma tem 47% e Aécio, 39%.

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Burgueses e proletários

Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 23/10/2014

É falsa a ideia de que temos um governo a serviço dos trabalhadores e contra os patrões, que subsidia toda a campanha da presidente Dilma Rousseff. Trata-se de um discurso de natureza manipuladora

Operários - Tarsila do Amaral
Toda a estratégia de reeleição da presidente Dilma Rousseff se baseia num velho conceito de luta de classes: burgueses versus proletários. Como se sabe, isso nada tem a ver com os fundamentos das democracias ocidentais, que são inspiradas na Revolução Francesa, na Revolução Inglesa e na Independência dos Estados Unidos.

Do ponto de vista político, essa dicotomia se explicitou pela primeira vez como alternativa de poder na Comuna de Paris, que inspirou a Revolução Russa e o surgimento da chamada ditadura do proletariado. Depois da dissolução da União Soviética e da dèbâcle do socialismo no Leste Europeu, o que restou disso são os regimes comunistas de China, Cuba, Vietnã e Coreia do Norte.

Na verdade, o conflito entre patrões e empregados é do cotidiano das economias capitalistas e se resolve nas campanhas salariais e contratos de trabalho. Do ponto de vista político, as sociedades pós-modernas são multifacetadas e policlassistas, não comportam essa simplificação, que se baseava nas grandes indústrias mecanizadas do século 19. Para todos os países citados acima, o socialismo foi uma via de industrialização tardia (com exceção apenas das antigas Tchecoslováquia e da Alemanha Oriental), mas as respectivas sociedades continuaram estruturadas em classes sociais, com a burocracia comunista no lugar da burguesia.

É falsa a ideia de que temos um governo a serviço dos trabalhadores e contra os patrões, que subsidia toda a campanha da presidente Dilma Rousseff. Trata-se de um discurso de natureza ideológica, que atribui ao PT o papel de representar o proletariado. Quando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que deixou de ser ferramenteiro na década de 1970, reivindica o condição de líder da classe operária, realimenta esse discurso. Essa é a essência do marketing do PT como partido.

As ideologias
Como se sabe, as ideologias são formas distorcidas da realidade. Quando predominaram sobre a política, o mundo conheceu a radicalização que desaguou na Guerra Civil espanhola, na Segunda Guerra Mundial, no Holocausto e na Guerra Fria. O mesmo vale para a regressão ideológica do fanatismo religioso. Há divergências conceituais sobre a necessidade ou não de as ideologias serem ilusórias, mistificadoras e produtoras de uma falsa consciência. As ideologias, porém, sempre colaboram com a criação ou a manutenção das relações de dominação. A gênese dos partidos está nas ideologias, e não nos programas, que mudaram com o tempo: liberalismo, social-democracia, comunismo, fascismo, democracia-cristã.

Como no Brasil quase toda ideia política acaba mitigada, nossos partidos não estão imunes ao velho patrimonialismo ibérico descrito por Sérgio Buarque de Holanda em Raízes do Brasil — do qual o PT está se tornando uma presa fácil — nem das influências positivistas disseminadas pela presença dos militares na vida republicana, a partir de Benjamin Constant na Escola Militar da Praia Vermelha. A presidente Dilma Rousseff tem todos os cacoetes do positivismo castilhista gaúcho.

Ao contrário do que apregoam nos discursos, Lula e Dilma foram os presidentes que mais favoreceram a concentração de capital e a formação de monopólios desde o governo Geisel, no regime militar, com financiamentos milionários do BNDES para grupos econômicos privilegiados, alguns notoriamente irresponsáveis, como os concedidos ao empresário Eike Batista, hoje falido. O setor exportador de alimentos é o maior exemplo dessa política monopolista. Nunca as multinacionais do setor automobilístico foram tão beneficiadas pelo governo, no mesmo período, em detrimento de outros setores da indústria nacional, apesar do discurso nacionalista. Os financiamentos para as grandes empreiteiras realizarem obras nos países amigos da América Latina e da África dispensam comentários.

Historicamente, o capitalismo de Estado — tanto na Europa como em outros continentes — foi uma via de industrialização. No Brasil, está sendo uma inédita via de desindustrialização e desorganização da economia. O crescimento do PIB brasileiro deverá ser zero, a inflação está acima da meta, a informalidade aumenta, as contas públicas estão completamente maquiadas, a capacidade de investimento da Petrobras e da Eletrobras foi volatilizada, as parcerias público-privadas de infraestrutura não saem do papel. Cresce a dívida pública e o deficit externo.

O discurso de que a oposição são os ricos, os patrões, os entreguistas, enfim, a velha direita serve para encobrir tudo isso nas eleições. É uma mistificação. Quem vai pagar essa conta são os trabalhadores assalariados e a classe média tradicional, que transferem quase um terço da renda familiar para a União sem a necessária contrapartida de serviços — na saúde, na educação, nos transportes e na segurança pública, principalmente.

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Vale tudo na reta final

Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - 22/10/2014

O marketing dos programas governamentais está funcionando mais do que as críticas feitas pela oposição, que caiu na armadilha petista: o confronto de imagens pessoais 

Como aconteceu no primeiro turno das eleições, a reta final da campanha eleitoral revela grande volatilidade no posicionamento dos eleitores. Uma parcela da população identificada como a nova classe média, principalmente nos grandes centros urbanos, estaria indecisa em relação aos candidatos a presidente da República e isso se refletiria nas pesquisas.

 Mais oito pesquisas serão divulgadas nos próximos quatro dias, sendo três do Datafolha, duas do Ibope e do Sensus e uma do MDA. Ou seja, há sondagens para todos os gostos. A grande incógnita é saber se teremos uma “montanha russa” até domingo ou a chamada “boca de jacaré” se abrindo. De qualquer forma, há que se considerar que as pesquisas não estão batendo, dentro da margem de erro, com os resultados eleitorais verdadeiros. Foi o que ocorreu no primeiro turno.

Segundo o Datafolha de segunda-feira, Dilma tinha 43% dos votos e passou para 46%; Aécio, caiu de 45% para 43%. Os votos brancos e nulos baixaram de 6% para 5%, e os indecisos continuam sendo 6%. Aécio venceria no Sudeste (49% a 40%), no Sul (51% a 33%) e no Centro-Oeste (48% a 39%); Dilma, no Nordeste (64% a 27%) e no Norte (55% a 39%). Nos votos válidos, Dilma tem 52% e Aécio, 48%. É um empate técnico no limite máximo da margem de erro, de dois pontos para mais ou para menos. Nas duas rodadas anteriores, Aécio esteve à frente, com 51% a 49%.

Como explicar esse resultado, uma vez que as três regiões onde Aécio é vencedor têm um contingente eleitoral maior do que a controlada por Dilma Rousseff? Muito simples: a vantagem de Aécio caiu no Sudeste, no Sul e no Centro-Oeste, e a de Dilma aumentou no Norte e Nordeste. O que garante a petista nessas regiões não é o Bolsa Família, é o apoio das velhas oligarquias nas regiões mais atrasadas do país.

A desconstrução
O último Datafolha mostrou mais uma vez que a estratégia de “desconstrução” da imagem dos adversários adotada pelo marqueteiro do PT, João Santana, pode funcionar contra Aécio Neves. Foi bem-sucedida no primeiro turno, quando desidratou Marina Silva. O tucano vem resistindo aos ataques, mas enfrenta um verdadeiro Sujismundo — aquele personagem criado pelo publicitário Ruy Perotti durante o regime militar, na campanha “Povo desenvolvido é povo limpo”, que pegou como apelido do sujeito que gosta de imundície.

Houve de tudo na campanha eleitoral, principalmente nas redes sociais, mas também nos comícios, em alguns momentos protagonizados pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Nos grotões e nas periferias do país, o PT espalha que Aécio Neves acabará com o Bolsa Família; nas cidades, que vai arrochar os salários dos trabalhadores. Nos bancos oficiais — que têm grande capilaridade por todo o país —, que privatizará a Caixa Econômica Federal (CEF) e o Banco do Brasil (BB). Na Petrobras, esse discurso não cola mais por causa dos escândalos.

A campanha de “desconstrução” foi tão suja que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) baixou novas normas em plena campanha e passou a punir com a perda do tempo de televisão e rádio candidatos que usam o horário eleitoral para fazer ataques aos adversários em vez de apresentar propostas. O ministro Admar Gonzaga, em decisão tardia e salomônica, deu uma no cravo e outra na ferradura: Dilma perdeu quatro minutos de suas inserções na tevê e 72 segundos no programa de rádio. Aécio foi penalizado com a perda de dois minutos e meio de suas inserções televisivas.

 Mas não foi só isso o que mexeu com as tendências nas pesquisas. Melhorou a da avaliação do governo, já que 42% julgam a gestão de Dilma Rousseff ótima ou boa. Esse é o melhor patamar desde junho de 2013, mês dos grandes protestos de rua. Ou seja, o marketing dos programas governamentais está funcionando mais do que as críticas feitas pela oposição, que caiu na armadilha petista: o confronto de imagens pessoais fez subir a rejeição de Aécio.

Nas redes sociais, porém, petistas e tucanos se digladiam sem regras definidas. O Facebook tem 96 milhões de usuários no Brasil, dos quais 47% estão concentrados em São Paulo, em Minas Gerais e no Rio de Janeiro. Aécio tem 3,02 milhões de fãs; Dilma, 1,6 milhão. O Twitter tem 22 milhões de usuários no Brasil. Dilma tem 2,9 milhões de seguidores; Aécio, 185,4 mil. Nesse ambiente virtual, vale tudo, desde morder a orelha até enfiar o dedo no olho do adversário.

Otimismo beneficia Dilma



Manchete da Folha de São Paulo destaca resultado da pesquisa Datafolha realizada na terça-feira e que indica otimismo dos eleitores em relação à economia, o que ajuda a explicar a reação da presidente Dilma Rousseff na corrida pela reeleição. A expectativa de que os índices vão aumentar recuou para o patamar mais baixo da série do instituto, desde 2007. Para 31% da população, o país terá mais inflação – em abril, esse percentual era de 64%. Agora, 21% acreditam que os preços vão cair. Para 35%, ficarão como estão.

Também há otimismo quanto ao desemprego, poder de compra, situação do país e a própria situação pessoal. Essa expectativa reflete o sucesso do marketing político do PT e não bate com os números reais da economia. Neste ano, o PIB deve crescer só 0,3%. Em setembro, a acumulação da inflação em 12 meses chegou a 6,75%, superando a meta. O levantamento repetiu os números de um dia antes: a petista aparece com 52%, e Aécio Neves (PSDB), com 48% dos votos válidos – empate técnico.